Ele me olhou surpreso e respondeu? “África? A África não tem a menor importância. Próxima pergunta.” Tinha pressa, e dali a duas horas uma reunião com diretores do banco em Berlim. Não perderia tempo a conversar sobre o continente mais pobre do mundo.
Esta é uma das vantagens do mundo globalizado e digital: há mais de 60 dias conversamos sem cessar sobre a carnificina promovida por Israel na miserável e superpovoada Faixa de Gaza. O legítimo direito de Israel à defesa escalou para o ilegítimo direito ao massacre.
O show de cinismo dos líderes das principais potências mundiais é vergonhoso e dá asco. Ante o crescente número de palestinos mortos, cerca de 18 mil a essa altura, 70% deles mulheres e crianças, renovam a todo instante seu apoio a Israel, mas sugerem moderação.
Israel agradece o apoio e continua a matar inocentes onde quer que estejam a pretexto de que os terroristas do Hamas se escondem por trás deles. É como se dissesse: sinto muito, mas vou matá-lo porque na sua cidade, no seu bairro, no seu prédio pode haver terroristas.
Pode haver, não obrigatoriamente há. Mas, na dúvida, que morram todos. O Hamas, enquanto grupo organizado e bem armado, é cria de Israel, que imaginou corrompê-lo como fez com a Autoridade Palestina, que finge governar a Cisjordânia, suposto território palestino.
Para vingar-se da invasão sangrenta do 7 de Outubro e demonstrar suas boas intenções humanitárias, Israel ordenou aos palestinos de Gaza que se mudassem do Norte do enclave para o Sul. Mais da metade deles obedeceu para salvar a pele. Israel, agora, os mata no Sul.
Nesse ritmo, não ficará pedra sobre pedra em Gaza, e a população que restar quando a guerra chegar ao fim não terá onde viver, o que comer, onde se tratar. Dependerá da caridade internacional, e essa da pressão da volúvel opinião pública sempre ávida por novidades.
No mesmo dia em que orientou o embaixador do seu país no Conselho de Segurança da ONU a vetar mais uma resolução que pedia novo cessar-fogo em Gaza, o presidente americano, Joe Biden, voltou a pedir a Israel que proteja os civis palestinos.
Como seus apelos repetidos dia sim e outro também esbarram em ouvidos moucos, por que Biden não suspende a venda de armas de destruição em massa a Israel? Não: Biden briga com o Congresso para que libere mais uma ajuda de 14 bilhões de dólares a Israel.
Assim caminha a desumanidade.
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