quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Planos morais

Vamos lá, pessoal, não é tão difícil assim. Dá para condenar os brutais ataques terroristas do Hamas e, ao mesmo tempo, criticar a resposta israelense, que vem causando um morticínio entre palestinos. Os planos morais em que atuam um e outro não são idênticos, mas, para quem morre no processo, o resultado é rigorosamente o mesmo.

Por mais justa que seja a sua causa, ela não lhe dá o direito de entrar no território inimigo e assassinar civis desarmados, incluindo crianças, a sangue-frio. A violação moral do Hamas no 7 de outubro é incontestável, quer você abrace éticas deontológicas, da virtude ou consequencialistas. Se o ataque tivesse tido como alvo apenas militares e colonos armados, ele ainda poderia ser descrito como ato de resistência. Não foi o caso.


A ação do Hamas deu a Israel o "ius ad bellum", o direito de ir à guerra, e eventualmente matar, para recuperar os reféns e neutralizar o poderio do grupo terrorista. Mas Tel Aviv ainda tem a obrigação de agir em conformidade com o "ius in bello", as leis de guerra definidas pelas convenções de Genebra, notadamente as proteções à população civil. E nem com muito boa vontade dá para dizer que Israel esteja se empenhando ao máximo em evitar as mortes de civis.

É verdade que o fato de o Hamas deliberadamente esconder seus QGs e armamento em túneis sob hospitais e escolas torna essa tarefa bem mais complexa, mas, se Israel quer manter superioridade moral sobre seu adversário, precisa encontrar uma forma de conciliar esses objetivos contraditórios.

Há uma pegadinha aí. Pelo menos nas visões mais cínicas, age-se moralmente por uma questão de reputação. Se Israel se convencer de que sofrerá condenação da opinião pública mundial independentemente do que faça —tivemos uma prévia disso no caso do hospital Al-Ahli Arab, em Gaza—, poderá concluir que é inútil tentar agir moralmente. Aí o que já é feio ficaria muito pior.

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