O ataque do Hamas em 7 de outubro mostrou que Israel só terá segurança real se surgir um Estado palestino, o que eliminaria ou pelo menos reduziria o apelo por movimentos teocrático-terroristas como o Hamas e o Jihad Islâmico. E o problema é que Netanyahu, por razões tão banais como manter-se no poder e evitar a cadeia (ele responde a processos por corrupção), fará o que estiver a seu alcance para bloquear iniciativas que possam resultar num Estado palestino.
Interessa a Netanyahu agora prolongar ao máximo o estado de guerra e reforçar seus vínculos com os partidos ultrarreligiosos de extrema direita, com o que iria adiando sua provável defenestração do poder.
Um eventual entendimento com os palestinos, porém, exige exatamente o contrário disso. O morticínio que Israel está impondo à população civil de Gaza precisa parar o quanto antes, e a pauta dos ultrarreligosos, que é essencialmente a de ampliar os assentamentos judaicos da Cisjordânia, tem de ser revertida. O Estado palestino precisa ser territorialmente viável, o que exige desmantelar ao menos parte das colônias.
A melhor chance de isso acontecer é por pressão dos norte-americanos. Joe Biden tem os meios e o interesse em recolocar israelenses e palestinos para discutir a paz. Se o processo não naufragar antes mesmo de começar, poderia ser vendido como trunfo eleitoral no pleito norte-americano do ano que vem. Para isso, o presidente dos EUA vai ter de falar duro com o premiê israelense.
Se é verdade que apostar em paz no Oriente Médio é jogar dinheiro fora, também é fato que, depois dos acontecimentos do último mês, o status quo se tornou insustentável. Algo vai ter de acontecer.
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