No meio da tragédia somos informados de que os palestinos libertaram duas pessoas sequestradas por razões humanitárias. Estão livres, podem voltar para o seio da família, o contrário do que os sequestradores anunciavam quando começaram a entrar em ação.
Ótimo. Claro que nos sentimos solidários à alegria da dupla, que aplaudimos a decisão dos sequestradores. Mas de onde vem essa decisão? O que ela significa? A que ela nos leva? Que brincadeira é essa com os nossos corações?
Quando essa guerra começou, há duas semanas, nos manifestamos contra sua natureza e sobretudo quanto aos motivos e às disposições dos dois lados dela. Considerávamos que não havia por que ambos afirmarem tal ódio ao “inimigo” por tão pouco. Nosso mundo não justificava mais (nem nunca justificou) uma oposição racial ou religiosa tão intensa quanto a que eles sempre afirmaram sentir um pelo outro. Uma oposição capaz de gerar um nível de ódio impossível de ser explicado, a não ser pela simples e inexplicável estupidez humana.
Na eleição de Joe Biden à presidência americana, nos unimos ao que havia de melhor nos Estados Unidos e no mundo em um elogio à derrota de Donald Trump, cuja vitória significaria um sucesso da extrema direita violenta, guerreira, inimiga dos fundadores libertários do século XIX.
Hoje vemos que estávamos enganados. Ou seja, que Biden não era muito melhor que Trump. Será que não podemos ter esperança alguma num futuro do planeta?
Há pouco o Brasil estava assumindo a presidência do Conselho de Segurança da ONU por um mês, como é de praxe, com o governo enfrentando os “amigos” do Congresso que queriam que se declarasse apoio a Israel e ao bombardeio de Gaza. O Itamaraty e o ministro do Exterior, Mauro Vieira, apresentaram uma proposta adulta, que deixava esse apoio a critério de cada país. E que, ao mesmo tempo, pregava a paz. Pois o representante dos Estados Unidos não quis saber de nada, recusou-se a assinar a moção brasileira. Foi o único membro do Conselho a adotar essa posição e como tem direito a veto, junto com mais cinco nações igualmente poderosas, acabou neutralizando a pacífica intenção da proposta.
Talvez seja também a prova de uma ingenuidade brasileira, o não entendimento de que a paz não seria um bom negócio para os poderosos. Mas, se estamos sós, a sós ficaremos!
Quem sabe isso não será também um recado para nós todos que desejamos antes de tudo o fim das guerras. No fundo, talvez seja o que os países membros do Conselho da ONU com direito a veto desejem nos dizer, para não nos metermos nesses assuntos que são da alçada deles.
O fato é que a maldição dessa guerra insana (insana como toda guerra) impediu que as vítimas da Faixa de Gaza recebessem um pouco de água e comida, além dos serviços médicos de que devem estar precisando tanto.
Gaza — que, na definição de um político europeu, foi chamada de a maior prisão a céu aberto do mundo — continuará recebendo os líderes da guerra de braços dados com o desorientado Benjamin Netanyahu a fim de comemorar as “vitórias” no combate contra palestinos e israelenses.
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