Confesso que também como com os olhos. Sem beleza, o prato pode ser saboroso, mas não me atrai. Meu apetite estético exige toalha e guardanapo, talheres da mesma família, copo com algum diferencial, louça sem rachadura, nos dias úteis e feriados. Aí, podem me servir feijão com arroz que vou apreciar com o mesmo prazer de receitas requintadas.
Esta semana, preparei iscas de fígado com bastante tomate e cebola. Perfume e aparência estavam ótimos. Cheguei a ligar o celular para fazer a foto, mas não tive coragem, pela primeira vez sentindo constrangimento.
Foi fácil deduzir a razão. Com a campanha eleitoral, a fome tornou-se um dos temas principais. Cada candidato da oposição, a seu modo, expõe cenas e números que incomodam, polarizando a sociedade entre alimentados e famintos.
A todo instante tropeço com meninos vendendo balas nas esquinas e adultos pedindo ajuda para comprar um pão, embora o presidente atual não acredite nisso. Outro dia, um homem me abordou, dizendo que queria levar a família para almoçar no Bom Prato, do outro lado da cidade, onde as refeições custam $1,50 cada. Além do valor para garantir alimento para o casal e o filho, precisaria ajuda para pagar a condução, que aqui custa $4,90 por pessoa.
Sobreviver é para os fortes. Comer é para os que têm sorte. Cabem aqui dois clichês: promessas não enchem barriga de ninguém e de boa intenção o inferno está cheio. Quem mora na rua não tem como pleitear auxílio financeiro do governo. Quem recorre ao Bom Prato, que funciona de segunda a sexta, precisa buscar outra fonte de abastecimento nos fins de semana e feriados.
O pessoal do Censo ainda não passou por aqui. Será que pergunta quantas refeições por dia faz o recenseado? Quem mora na rua é incluído no questionário? Anda difícil ser feliz, com a miséria germinando solta feito erva daninha. Quem pode, ajuda, mas a sensação é de gota no oceano, já que são tantos os desassistidos.
A culinária já não é distração, muito menos, motivo de satisfação. Pesa na consciência estar do lado oposto da linha de pobreza. Chegar das compras no supermercado agora é quase uma afronta. Variar o cardápio conforme a vontade, então, beira o atentado. Tão cedo os amigos não verão novas fotos do que, antes, me fazia feliz… Há muitos famintos à espera de melhores dias.
De minha parte, também tenho fome. De cultura, educação, respeito mútuo, de planos possíveis e um futuro realizável. Você tem fome de que?
A todo instante tropeço com meninos vendendo balas nas esquinas e adultos pedindo ajuda para comprar um pão, embora o presidente atual não acredite nisso. Outro dia, um homem me abordou, dizendo que queria levar a família para almoçar no Bom Prato, do outro lado da cidade, onde as refeições custam $1,50 cada. Além do valor para garantir alimento para o casal e o filho, precisaria ajuda para pagar a condução, que aqui custa $4,90 por pessoa.
Sobreviver é para os fortes. Comer é para os que têm sorte. Cabem aqui dois clichês: promessas não enchem barriga de ninguém e de boa intenção o inferno está cheio. Quem mora na rua não tem como pleitear auxílio financeiro do governo. Quem recorre ao Bom Prato, que funciona de segunda a sexta, precisa buscar outra fonte de abastecimento nos fins de semana e feriados.
O pessoal do Censo ainda não passou por aqui. Será que pergunta quantas refeições por dia faz o recenseado? Quem mora na rua é incluído no questionário? Anda difícil ser feliz, com a miséria germinando solta feito erva daninha. Quem pode, ajuda, mas a sensação é de gota no oceano, já que são tantos os desassistidos.
A culinária já não é distração, muito menos, motivo de satisfação. Pesa na consciência estar do lado oposto da linha de pobreza. Chegar das compras no supermercado agora é quase uma afronta. Variar o cardápio conforme a vontade, então, beira o atentado. Tão cedo os amigos não verão novas fotos do que, antes, me fazia feliz… Há muitos famintos à espera de melhores dias.
De minha parte, também tenho fome. De cultura, educação, respeito mútuo, de planos possíveis e um futuro realizável. Você tem fome de que?
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