Do lado positivo, a expectativa de que, sim, o novo modelo da peste pode indicar o caminho para algum tipo de normalização dada a sua avassaladora transmissibilidade e aparente comedimento em termos de impacto mortífero entre aqueles que estão vacinados.
O problema está no aparente, e falo com o amargor de quem perdeu um ente muito próximo que nem de longe poderia ser qualificado de negacionista. A alta atividade do patógeno leva, evidentemente, a mais casos e à maior probabilidade de oportunidades à Ceifadora.
Infelizmente não temos W.G. Sebald cá nos trópicos para, como fez o maior escritor alemão do pós-Guerra com uma Europa destroçada, descrever a perplexidade e impotência ante o tsunami que nos colheu.
A propósito, Sebald, cuja obra se assenta em quatro obras-primas e foi interrompida por uma morte estúpida aos meros 57 anos, em 2001, ora é escrutinado em uma instigante biografia da britânica Carole Angier, lançada recentemente.
Ela percorre os caminhos tortuosos da mente do escritor, aponta contradições éticas graves em seu trabalho acadêmico e registra a revolta com que os personagens de seus livros foram decalcados de histórias reais --basicamente, Sebald destruía sua matéria-prima e a remontava de uma forma ficcional crível e bela.
Com isso, ele trouxe as reflexões acerca da culpa coletiva de uma Europa sob o nazismo, que ele vira ausente em seu pai, que servira à Wehrmacht na Segunda Guerra Mundial.
Os fragmentos, muitas vezes colagens fotográficas ou palimpsestos mentais tirados da observação da topografia arquitetônica do continente, ganhavam vida para exprimir a dor vazia do Holocausto.
Ela percorre os caminhos tortuosos da mente do escritor, aponta contradições éticas graves em seu trabalho acadêmico e registra a revolta com que os personagens de seus livros foram decalcados de histórias reais --basicamente, Sebald destruía sua matéria-prima e a remontava de uma forma ficcional crível e bela.
Com isso, ele trouxe as reflexões acerca da culpa coletiva de uma Europa sob o nazismo, que ele vira ausente em seu pai, que servira à Wehrmacht na Segunda Guerra Mundial.
Os fragmentos, muitas vezes colagens fotográficas ou palimpsestos mentais tirados da observação da topografia arquitetônica do continente, ganhavam vida para exprimir a dor vazia do Holocausto.
E, com sorte, transcender algo dela por meio da Grande Beleza, para agora roubar o título do filmaço de Paolo Sorrentino (nota aleatória, "A Mão de Deus", no Netflix, é imperdível).
Não temos um Sebald, embora ao menos no quesito de pecados na academia, a acusação mais séria de Angier, não nos faltem exemplos. O chororô criado acerca do método do alemão ao criar ficção parece, à primeira vista, só isso.
Já o impacto da Covid-19 num país governado por uma casta particularmente nefasta de lorpas é objeto para choro real. E não, não espezinharei a morte do negacionista ora elevado a merecedor de luto nacional.
Critiquem sua obra tola, combatam hagiografias, mas deixem a família do homem em paz. Falta-nos um Sebald para contar tudo isso ao porvir, na hipótese de Putin e Biden nos concederem a graça.
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