Deverá também ser capaz de exercer governança que permita ao Brasil voltar a funcionar, depois da degradação de suas instituições, do imenso desequilíbrio fiscal, da corrupção, do corporativismo e da política sem espírito público. Fazer o país funcionar e o Estado ter eficiência é um desafio fundamental para o próximo presidente.
Precisará também iniciar a reconstrução do que vem sendo destruído ao longo dos anos de recessão econômica, sequestro e aparelhamento do Estado, atraso tecnológico, agravados pela estupidez revogatória do atual governo eliminando avanços do passado. Esses desafios seriam enfrentados mais facilmente se as forças políticas tivessem sido capazes de encontrar propostas, nomes, ideias e forças novas que permitissem, em 2022, um salto adiante, sem amarras com o passado. Mas isso não ocorreu.
Prisioneiras do radicalismo, do partidarismo e do imediatismo, nossas lideranças políticas não foram capazes de apresentar novidade nas eleições deste ano. Os 12 candidatos que se apresentam têm cara e propostas (ou falta de propostas) características do passado, dificilmente surgirão nomes capazes de trazer ares novos, passar confiança e seduzir o eleitorado, nas poucas semanas adiante, antes das eleições.
Tudo indica que o processo eleitoral chegará ao segundo turno entre Bolsonaro e Lula, e este último será o nome que o Brasil disporá para pacificar, exercer governança e reconstruir o país. Mas, para isso, ele precisará enfrentar dificuldades com a postura tradicional do partido.
Para pacificar, precisará superar o comportamento de parte da militância e da direção de dividir o Brasil entre o PT e o resto; ser capaz de atrair os que são tratados como inimigos por terem sido discordantes. Esta é uma eleição para o eleito se comportar como pacificador, não como vitorioso.
Lula passa essa visão quando dialoga com líderes de outras forças, mas é preciso mais que isso: uma postura de aceitação de outras forças, propostas e visões dos que desejam tirar o Brasil do abismo, mesmo discordando do PT. A pacificação é um desafio para vencer a eleição, de preferência no primeiro turno, e necessária para permitir a governança depois da posse.
Nesse desafio, o próximo presidente precisará ser pacificador e responsável. Não haverá governança com irresponsabilidade fiscal e inflação roubando salários de trabalhadores e aposentados, tampouco sem reformas em regras que isolam e emperram a economia brasileira; precisará liberar forças produtivas e barrar privilégios corporativos que impedem a distribuição da produção. A governança exigirá sensibilidade social para atender às necessidades das camadas pobres, mas também responsabilidade com os limites dos recursos, ecológicos ou fiscais. Seria uma tragédia vencer para acabar com o negacionismo de direita e substituí-lo por negacionismo de esquerda.
Para reconstruir, Lula precisa olhar para o futuro, escapando de visões obsoletas de alguns de seus aliados que se recusam a perceber a realidade do século 21, preferem continuar com ideias superadas, vendo o próximo governo como instrumento de desfazimento e não de construção. Não se constrói o futuro com nostalgia do passado.
A governança será fundamental para retirar o Brasil do atual abismo, reconstruindo nossa economia e nosso tecido social. Por isso, Lula não pode cair na tentação de revogar e desfazer para voltar a um passado superado, precisa avançar na construção de uma economia sólida e um tecido social justo.
A pacificação e a governança vão exigir comprometimento com a eficiência do Estado a serviço do país e do futuro. Para tanto, há uma palavra adicional, que serve de liga aos três desafios: confiança. Para pacificar, governar e construir, Lula e o PT precisam entender que o Brasil é maior do que qualquer partido e que o futuro não se constrói com nostalgias que negam a realidade.
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