Antes de viajar a Goiânia para mais uma solenidade militar (foram nove até aqui em agosto), ele recomendou aos devotos com os quais se reúne diariamente à saída do Palácio da Alvorada:
“Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Tem um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar.”
Mais fuzil, menos feijão – eis a nova receita econômica e institucional do presidente. O que pretende com isso? Apenas estimular os instintos mais primitivos dos seus fiéis seguidores para não perdê-los? Desviar a atenção do aumento do custo de vida? Ou é só mais uma prova do seu desequilíbrio mental?
De agosto de 2020 a agosto que chega ao fim, o preço da energia elétrica aumentou 20,4% contra 9,3% da inflação; o do feijão, 11%; arroz, 37%; gasolina, 39%; diesel, 35%; botijão de gás, 31%. Em julho do ano passado, o brasileiro trabalhou 12 dias para comprar a cesta básica. Em julho deste ano, 14 dias.
Nos tempos antigos, quando não havia pesquisas de opinião pública nem outros meios de se avaliar o humor das pessoas, os políticos mais experientes se limitavam a perguntar: o custo de vida aumentou ou diminuiu? Se diminuiu, o governo ganhará a próxima eleição; se aumentou, perderá. Era simples assim.
E, de certa forma, não deixou de ser. Essa é a âncora mais pesada que Bolsonaro arrasta no momento, e nada indica que deixará de ser até onde a vista alcança. Sem falar de outras: o desemprego; a falta de obras a serem exibidas; o número de mortos e infectados pela pandemia; o desmonte do combate à corrupção; e por aí vai.
A 14 meses das eleições do ano que vem o presidente sem partido, que fracassou na tarefa de construir um para chamar de seu, sequestrado pelo Centrão que lhe toma tudo o que tem para abandoná-lo mais tarde, está a caminho da guilhotina e só conta com uma saída para salvar sua cabeça: o apelo às armas.
Nunca na história falou-se tanto em 7 de setembro como agora. Os aliados de Bolsonaro dizem que ele quer dar uma demonstração de força para depois negociar uma trégua com os demais poderes da República. A ideia faria sentido se Bolsonaro fosse um político normal, mas ele não aprendeu nada e não esqueceu nada.
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