sábado, 28 de agosto de 2021

Basta de agosto: primavera já!

“O Rio amanheceu cantando / toda a cidade amanheceu em flor/ os namorados vão pra rua em bandos / porque a primavera é a estação do amor.”

Amanheci com a voz de Dalva de Oliveira na cabeça cantando os versos de Braguinha, mas eles não me levaram a esse tempo de ventura que não vivi, mas ao próximo setembro, por todos os motivos que tenho para esperá-lo, para antecipar a chegada da primavera. Ao menos como metáfora.

É a esperança que a vacinação continue avançando, que cada um faça o que tem que ser feito, que aos poucos a vida volte a florescer depois da devastação da peste, é o que o mundo espera. É o que sempre acontece depois de guerras e epidemias. Embora no Brasil tudo seja mais difícil, com a economia em frangalhos, transformado em um pária internacional, sob ameaças de um golpe de Estado que ou vira uma ditadura ou uma inconcebível guerra civil (entre o Exército e a Polícia Militar?), ou fica como mais uma bravata irresponsável para tentar intimidar a oposição, o Congresso e o Judiciário. E incendiar suas legiões de fanáticos e suas milícias digitais, que as pesquisas estimam em torno 25% da população. Não é pouca gente. Mas é bem menos que os 65% que rejeitam Bolsonaro. Seria uma novidade: um golpe da minoria contra a maioria absoluta.


Quem consegue imaginar os comandantes das Forças Armadas, com 30 anos de estudos e serviços, apoiando uma ditadura do Jair? O que aconteceria se Bolsonaro tivesse poder para fazer o que quer sem o Congresso e o STF para atrapalhar? É só lembrar algumas de suas tentativas subversivas que foram barradas por tribunais, pela Câmara e pelo Senado. Sem controle, teria obrigado os estados a tratamento da Covid-19 com cloroquina e ivermectina, não teria comprado as vacinas porque não acreditava nelas, submeteria o Brasil a uma imunidade de rebanho como se fosse gado em que alguns têm que morrer para a sobrevivência da manada. Proibiria lockdowns e isolamentos. Por ignorância e má-fé proibiria o trabalho remoto. ( “O presidente da Petrobras que eu demiti ficou dez meses em casa sem trabalhar”). Liberaria a venda de armas para milícias populares inspiradas nas brigadas chavistas. Obrigaria os presidentes dos três poderes a abrir suas sessões com uma oração. Teria nomeado o filho Eduardo embaixador em Washington e arquivado todos os processos contra o filho Flávio. Teria fechado a TV Globo e aposentado metade do Supremo para substitui-los por “gente nossa”, seguindo a receita de Hugo Chávez de minar a democracia por dentro, corrompendo as instituições.

O curioso é que ao mesmo tempo em que é demonizado pelo bolsonarismo como comunista, o bolivariano virou um modelo para o capitão, que está tentando se tornar uma espécie de Chávez de baixo coturno, mas sem a inteligência, o carisma e a coragem do coronel.

Qual pesadelo pode ser pior: um chavismo de esquerda ou de direita?

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