A primeira coisa que ouvi foi que ela era louca. Comportava-se como louca. Fiquei pensando, doidice faz isso? Quem tem alteração nas faculdades mentais age assim? A noção compartilhada por muitos é que, se alguém tem atitude desarrazoada, a bradar desaforos, sem respeito pelos outros, é sinal de loucura.
Louco ou louca não fica por aí agredindo a dignidade das pessoas, tentando desqualificar, humilhar o próximo. Foi o caso daquela mulher. De louca, não tinha nada. Doente mental não é racista. Quem se comporta com essa característica é criminoso, perigoso, inviável. Não podemos negar nem relativizar as questões: aquela mulher era – e continua sendo – um exemplar da barbárie dos nossos dias.
Na manhã de quarta-feira, uma senhora que se auto-identificou aos gritos, mas cujo nome não será citado, entrou descontrolada numa agência bancária de João Pessoa (PB), dizendo ofensas racistas contra um funcionário. Ela se postou diante da câmera da sala e esbravejou coisas indescritíveis, chocantes de ouvir. E espumava:
– Eu sou a maior racista do planeta. Tenho orgulho de ser!
Ela se enxerga como racista, declara-se como racista e tem orgulho de ser racista. Ao ser contida por seguranças, a não-louca-porém-criminosa foi conduzida à delegacia, juntamente com a pessoa que recebeu as ofensas. Depois, o vídeo foi parar nas redes sociais. Algumas pessoas que o assistiam, certamente sem saber como classificar aquela selvageria, diziam que a atitude era coisa de uma louca. Louca, não. Respeitemos ou loucos.
Vivemos tempos terríveis, com a sociedade assumindo, sem constrangimento, o processo de desumanização. A cena, que ocorreu na Paraíba mas poderia ter sido em qualquer lugar deste País, não é novidade alguma e mesmo assim ilustra os nossos dias mofados pelas faltas de ética individual, de políticas sérias e de leis eficazes.
Eu fico me perguntando, o que leva uma pessoa a se achar no direto de negar o valor humano da outra? Que deformação é essa que abre espaço para uma mulher como aquela a pensar e a julgar, segundo os próprios critérios, que outra pessoa, somente por causa da cor da pele, é menos digna da vida do que ela? O que permite alguém achar que a outra, por ser negra, é merecedora da humilhação, da opressão, da exploração?
Dizem que uma das diferenças entre o animal e o humano é a capacidade de o racional ser diabólico e cruel. Nas atitudes e palavras. Somente o humano é capaz de fazer uso do mal como projeto. Ou seja, de ser bárbaro. Assim caminha a humanidade: a extrema direita passa de um estágio para o outro, com aptidão. Evolui a olhos vistos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário