Esse discurso começa a degringolar com a atitude tresloucada de se contrapor à vacina. Mesmo quem tem método sucumbe à própria vaidade. Ora, a vacina é a forma que temos hoje de pensar no retorno à normalidade. Esse era, supostamente, o desejo de um presidente que falava contra o isolamento. Por culpa de Bolsonaro, entretanto, não temos vacinas.
E, se não temos vacinas, temos uma segunda onda, que, ao deixar sem ar os pacientes de Manaus, escancarou a incompetência do governo. Temos hoje em São Paulo a maior ocupação de leitos de UTI desde o início da pandemia. A Bahia já tem 80% dos leitos ocupados. No Rio de Janeiro a situação é ainda pior.
Pode ser coincidência, mas é curioso que, num ponto crítico da segunda onda, estejamos discutindo o discurso antidemocrático que levou à prisão de um aliado do governo e a interferência do presidente na Petrobras, que depois vira afago nas redes ao ministro Paulo Guedes. Para animar uma torcida liberal recentemente frustrada, o presidente falou até em privatização, coisa que ele parecia ter esquecido de defender quando aglomerou com apoiadores no Ceagesp.
Os assuntos são todos relevantes, merecem discussão. O tema principal, entretanto, continua sendo a pandemia, que já causou 250 mil mortes num país que ainda não resolveu como vai vacinar a sua população.
Bolsonaro, ao pautar as nossas discussões, constrói o cenário adequado para edificar sobre a nossa falta de estratégia o alicerce da narrativa que lhe favorece.
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