Com a quebra do consumo, a produção de lixo plástico diminuiu, para alívio dos rios e mares que o recebem, com o que os peixes, aves e tartarugas ganharam uma chance. Com fábricas inativas e chaminés apagadas, a qualidade do ar também melhorou, inclusive para quem o empesteia. Sem a presença do homem, era inevitável que nossos companheiros de planeta se sentissem seguros para deixar suas tocas e vir dar uma olhada aqui fora. Mas tolos serão se acharem que isso durará para sempre. Tudo ficará sem efeito assim que a vida entrar de novo em ação, de mãos dadas com sua velha parceira —a morte.
O que estamos aprendendo hoje é que, com ou sem a Covid-19, o mundo não acabará, mesmo porque o coronavírus, por mais recém-chegado, faz parte dele. Quem pode acabar um dia é o homem, e, se isso acontecer, o planeta seguirá em frente, com um quorum mais do que suficiente de espécies para continuar vivo e pulsante.
Isso nos fere a vaidade e põe em xeque a antiga ideia-feita, herdada dos gregos e nunca bastante desmoralizada, que entroniza o homem no centro do universo. A atual crise demonstra que, longe de ser o centro, não somos nem periféricos.
O planeta pode passar sem a "Divina Comédia", "Hamlet", a "9ª Sinfonia", "O Pato Donald" e outras criações do espírito humano. Nós é que não podemos passar nem três minutos sem uma função que sempre demos de barato e o vírus está nos ensinando como é cara: respirar.Ruy Castro
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