O que quer o presidente da República quando lança uma acusação de fraude contra as eleições e a própria Justiça Eleitoral? Mais do que criar confusão, como é de seu hábito, e lançar mão de manobras diversionistas para desviar as atenções da crise da economia e do coronavírus, Bolsonaro tenta fazer um movimento de autodefesa. Quer, claramente, intimidar o Tribunal Superior Eleitoral e outras instituições da Justiça e do Legislativo diante de um cerco que se aperta em torno dele.
Segundo relatos, é grande o nervosismo da família Bolsonaro com os avanços nas investigações da morte do ex-PM Adriano da Nóbrega e com os documentos que a CPI das FakeNews vem recebendo do Facebook, do Google e de outras fontes. No primeiro caso, a apreensão maior é em relação à perícia dos 13 celulares (alguns dizem que são 11) que estavam com o miliciano na casa em que ele foi encontrado na Bahia. Mas a investigação anda também em outras direções. A Folha de S.Paulo, por exemplo, trouxe dados do inquérito mostrando que Adriano – defendido pelo presidente como herói – tinha contas pessoais pagas pela milícia. O que mais virá nessa investigação?
O cerco vai se fechando também na CPI, que terá seu período de trabalho prorrogado sob as bênçãos dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre. Depois de receber elementos mostrando que um computador usado pelo assessor de Eduardo Bolsonaro na Câmara disparou fake news e mensagens de conteúdo ofensivo, a comissão agora recebeu documentos mostrando que computadores do Senado também foram usados. Ninguém vai se surpreender na hora em que aparecerem os computadores do Planalto nessa investigação.
Juntando-se a isso descobertas do inquérito do STF que investiga fake news e agressões contra seus ministros, o caldo pode engrossar. Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, foram identificados empresários bolsonaristas que estariam financiando ataques contra ministros da Corte nas redes sociais. Evasão de divisas, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal praticados por esses personagens também estão no alvo.
O conjunto da obra, portanto, permite suposições de que, em algum momento, o cerco vá se fechar em torno do próprio Jair Bolsonaro, seja por elementos que o relacionem às milícias, seja por irregularidades como o recurso às fakenews e às agressões nas redes nos períodos pré e pós-eleitoral. Num sistema que já destituiu uma presidente da República usando um pretexto como as “pedaladas fiscais”, motivos para amparar uma acusação por crime de responsabilidade – aquela que dá em impeachment - podem não faltar. Jair Bolsonaro já terá percebido isso e está trabalhando para melar o jogo por antecipação.
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