Outro grande ecossistema, os recifes de corais do Caribe, pode vir a desaparecer em apenas 15 anos se passar de seu próprio ponto sem retorno, ou seja, se sofrer mudanças irreversíveis, alertaram cientistas na revista científica Nature Communications.
O colapso desses ecossistemas teria graves consequências para a humanidade e outras espécies. Tanto para a Amazônia quanto para os corais, a projeção para o ponto sem retorno foi feita com base no aquecimento global e em danos ao meio ambiente – desmatamento, no caso da floresta, e poluição e acidificação, no caso dos corais.
"As mensagens aqui são duras. Precisamos nos preparar para mudanças dos ecossistemas do nosso planeta que são mais rápidas do que previmos anteriormente", afirmou um dos autores do estudo, John Dearing, professor da Universidade de Southampton, no Reino Unido.
Para outro dos autores, Simon Willcock, professor da Escola de Ciências Naturais da Universidade Bangor, também no Reino Unido, incêndios de grandes proporções recentes na Amazônia e na Austrália – que seriam mais prováveis de ocorrer devido às mudanças climáticas – sugerem que muitos ecossistemas estão "à beira do precipício".
Segundo os cientistas, o ecossistema amazônico poderia ultrapassar o ponto sem volta já a partir de 2021. A equipe de pesquisadores conclui que, enquanto grandes ecossistemas levam mais tempo para chegar ao chamado ponto sem retorno, uma vez que ele é alcançado, o ritmo em que a degradação ocorre é significativamente mais rápido do que o verificado em ecossistemas menores.
Os pesquisadores atribuem isso ao fato de ecossistemas maiores serem compostos por mais subsistemas de espécies e habitats. Esse conjunto inicialmente fornece resiliência, mas uma vez passado certo limite, faz se acelere o ritmo em que os ecossistemas se degradam. Isso significaria que ecossistemas que existem há milhares de anos podem entrar em colapso em menos de 50.
Um total de 42 ecossistemas de vários tamanhos foi analisado no estudo – quatro terrestres, 25 marinhos e 13 de água doce. Apesar de uma série de cientistas não envolvidos na pesquisa endossar sua metodologia e reforçar a urgência de proteger ecossistemas mundo afora, alguns questionaram se as conclusões podem ser aplicadas à Amazônia.
Erika Berenguer, pesquisadora das universidades de Oxford e Lancaster, disse que o estudo foi prejudicado pelo fato de os autores incluírem apenas quatro ecossistemas terrestres, nenhum deles uma floresta tropical.
"É muito improvável, se não até distópico, esperar que uma área com metade do tamanho da Europa passe por uma mudança completa de vegetação em apenas 50 anos", disse Berenguer. "Não há dúvida de que a Amazônia está muito ameaçada e que um ponto sem retorno é provável, mas alegações infladas como esta não ajudam nem a ciência nem a política."
Alexandre Antonelli, diretor científico do Royal Botanic Gardens (Kew Gardens) de Londres, classificou como assustadoras as conclusões do estudo: "A menos que se adotem ações urgentes, podemos estar prestes a perder a maior e mais biodiversa floresta tropical do mundo, que evoluiu ao longo de pelo menos 58 milhões de anos e sustenta a vida de dezenas de milhares de seres humanos."
"Estas descobertas são mais um alerta para conter os danos impostos aos nossos ambientes naturais, e que empurram os ecossistemas a os seus limites", conclui Dearing.
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