A gravação é estrelada por um jornalista que deixou a televisão e virou porta-voz informal do governo. Numa palestra, ele sugere que o Brasil deveria “trocar de população” com o Japão.
“Com este subsolo, este clima, alguém teria dúvida de que os japoneses transformariam isso aqui em primeira potência do mundo em dez anos?”, pergunta. Em tom de piada, ele sugere que os brasileiros não fariam o mesmo no Japão. “Lá, eu não quero pensar”, ironiza.
O discurso reforça a ideia preconceituosa de que os brasileiros seriam preguiçosos e avessos ao trabalho. Mesmo assim, ganhou o aval do presidente. “Essa é para assistir algumas vezes e compartilhar”, ele tuitou.
O sonho de trocar de povo é mais antigo que o bolsonarismo. Em 1920, Oliveira Viana escreveu que negros, índios e mestiços exerciam uma “força repulsiva e perturbadora” sobre o caráter nacional. Com base nessa mentalidade, o governo passou a filtrar a entrada de imigrantes para “branquear” a população.
“Essas ideias racistas chegaram aqui na virada para o século XX. A tese era bem simplista: para se tornar uma nação civilizada, o Brasil deveria trazer mais imigrantes europeus”, resume o historiador Fábio Koifman, autor de “Imigrante Ideal: O Ministério da Justiça e a Entrada de Estrangeiros no Brasil (1941-1945)”.
Na época, os japoneses faziam parte do grupo de imigrantes “indesejados”. “Eles não eram considerados brancos”, explica o professor da UFRRJ.
Atribuir os problemas à população é uma saída cômoda para quem está no poder. Se o pior do Brasil é o brasileiro, o governo não pode ser cobrado por seus fracassos. A culpa é sempre do povo, não dos dirigentes.
Sem conhecer Bolsonaro, Nelson Rodrigues atribuía os males nacionais a um sentimento de inferioridade em relação a outros países. Com a vitória na Copa de 1958, o cronista pensou que o “complexo de vira-latas” havia ficado para trás. Estava enganado.
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