Somos um regime presidencialista...e cristão. Não é mesmo? Glória nas alturas. Abrace muito o Crivella, aquele pastor tão querido do Rio de Janeiro. Dancem. Na real e na metáfora. Amém. Se der para incluir o Witzel no abraço e no samba, está valendo. Ele também gosta de mandar a polícia mirar na cabecinha. E se o bloco incluir os irmãos metralha Zero Um, Zero Dois e Zero Três, teremos um trio elétrico para ninguém botar defeito na república das bananas.
Nas rodas de samba, não há outro assunto. Os furos que o chefe do Executivo dá a troco de nada. As grosserias que envergonham foliões. Greenpeace é um lixo, uma porcaria. Índio está evoluindo e ficando parecido com ser humano. Reservas são zoológicos. Uma pessoa com HIV é uma despesa para todos. Oriental tem pau pequeno. Quem quiser vir fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Não podemos ser um país do mundo gay. Governador do Nordeste é paraíba. O educador Paulo Freire era um energúmeno. Nem “a porra da árvore” escapou.
O Brasil, agora, está diante não de uma piada de mau gosto, mas de um crime de difamação moral e sexual. Jair Bolsonaro disse com riso indecente que a jornalista da “Folha de S.Paulo”, Patrícia Campos Mello, queria “dar o furo” em troca de informações. Galgou o pódio dos desprezíveis. O normal, num país regido por leis, é que o presidente seja instado a retirar o que disse e pedir desculpas. O normal é que ele condene o vídeo nojento e criminoso que compara jornalistas a prostitutas e ordene às redes bolsonaristas que o retirem do ar. Isso não livra ninguém de processo.
O monopólio da grosseria nunca se restringe aos comandantes. Para agradar ao chefe, seus diretos imitam o estilo porque pode valer afagos e promoção. Todos se tornam a pior versão de si mesmos quando o superior é rude.
Paulo Guedes não se imaginava assim como ministro. Começou com tchutchuca é a vó, chamou servidores de parasitas e criticou a festa danada de empregadas na Disney. Já se desculpou, até o próximo “deslize”. Os generais tiram do armário a farda embolorada de linha-dura. Eduardo, o ex-futuro-embaixador, se esgoela na Câmara para atacar adversárias políticas: “Raspa o sovaco, hein? Senão dá um mau cheiro do caramba”.
É só seguir o thread, o fio condutor do cotidiano. O Brasil começa a legitimar violência, intolerância e falta de educação entre compatriotas. A folia é a do impropério, do abuso.
Houve um momento em que achei que jornalistas nem deveriam aparecer mais em frente ao Palácio da Alvorada para ser ofendidos por Bolsonaro. Que deixassem o presidente falando sozinho para sua claque. Mas não. Quanto mais à vontade Bolsonaro estiver no figurino do capitão Jair, maior será o serviço prestado pela imprensa.
O mundo conhece ditadores de direita, ditadores de esquerda, democratas populistas. Bolsonaro desfila em outra ala, que transcende a ideologia. A ala dos vulgares e repulsivos. A vontade é de cancelar Jair. Mas, para o Brasil, melhor que ele não emudeça nem rasgue a fantasia dantesca. Que continue a expor seus paetês e seus esgares como porta-bandeira do insulto. Talvez assim, com nota zero em harmonia e enredo, consiga o rebaixamento.
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