Segunda temporada
Assim como o antipetismo elegeu Bolsonaro, agora é o antibolsonarismo que cresce e poderá eleger um candidato de oposição em 2022. Acontece em qualquer democracia. Bolsonaro continua caindo nas pesquisas e, desde o início de seu governo, só perdeu eleitores, sem conquistar novos entre os que votaram na oposição. O aumento da truculência, da intolerância e da grossura do “Bolsonaro raiz” só agrada aos devotos do mito, é só para eles que fala, um terço do eleitorado. Mas esse estilo também incomoda e afasta parte de um terço dos independentes e moderados. Uma estratégia arriscada, em que a radicalização pode levar ao isolamento e a unir adversários: os antibolsonaristas são hoje um terço da população.
E se a economia melhorar, o emprego e o salário crescerem, a criminalidade cair? E se forem feitas as reformas da Previdência, a tributária, a administrativa, a eleitoral? Bolsonaro seria imbatível?
Mesmo com o desastre da educação, comandada por um ministro trapalhão, e a constrangedora diplomacia olavista, que — mesmo depois dos choques de realidade que levou — segue tosca e provinciana, a população seria muito beneficiada, voltaria a ter esperanças. Os méritos seriam dos ministérios da Economia e da Justiça. E, no caso das reformas, do Congresso. Seria impossível não reconhecer o sucesso do governo, mesmo se presidido por um personagem detestável, autoritário e divisionista, que se move entre a ala racional-militar e a passional-familiar de seu governo e vive uma espécie de esquizofrenia filosófica: como harmonizar o espírito do liberalismo econômico com o ultraconservadorismo cultural?
Se o liberalismo empodera o cidadão e aumenta a sua liberdade pessoal, econômica e política, diminuindo a influência do Estado, com consequências positivas para toda a população, por que o mesmo governo se intrometeria na vida pessoal dos cidadãos e de suas famílias, com regras de comportamento baseadas em crenças religiosas pessoais, como um enviado de Deus num Estado laico?
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