Quase tive um acesso incontrolável de riso, como o personagem, ao ler críticos consagrados de jornais como “NYT”, “The Guardian” e outros elogiarem o ator como se estivessem fazendo uma concessão ao fato de espinafrarem o filme. Um dos resenhistas chega ao extremo de dizer que o problema está na densidade que Phoenix dá ao Coringa, por roubar da película todo o resto.
Que resto? Esta é a grande qualidade da versão do diretor Todd Phillips! Deixar, conscientemente, que Phoenix crie um filme para si próprio e que sua composição do personagem construa um “discurso” para além das falas, do roteiro, da direção.
O problema dos que têm problema com esse Coringa é o medo. Primeiro, o medo de sua humanidade e verossimilhança. Segundo, o pânico de enxergar que ele não é um psicopata. Um psicopata desconhece o sentido da empatia. O Coringa de Phoenix tenta negociar, obsessivamente, até que, na sua ótica perturbada, esgotem-se as alternativas.
Mesmo acometido de uma doença mental (muita gente ainda confunde psicose com psicopatia), afinca-se numa lucidez extrema no que se refere às regras básicas de convivência. Quando vêm os acessos de riso, tenta sempre avisar aos que não o compreendem, com um gesto negativo das duas mãos, tratar-se de um problema neurológico. Tem até um cartão que informa sua condição.
É medonho ver que o Coringa chegou com empatia para dar e vender. É quase um idealista da arte, da gentileza, do respeito ao cidadão, da solidariedade. É um dócil adversário dos embustes, da mentira, da exploração, até o momento em que a hipocrisia toma tamanho vulto que, torturado por seus delírios, “decide” que não há opção senão um violento cinismo.
Ao testemunhar os três playboys misóginos de Wall Street assediarem a passageira do metrô semi-vazio, antes de começar a rir, ele abana a cabeça, como a lamentar o incidente. Esse movimento, ora melancólico, ora gracioso, é a marca de seu desalento com o mundo. Um mundo onde Thomas Wayne, que nos quadrinhos costuma ser um Gandhi da elite financeira, no filme de Todd está mais para um candidato a Trump ou Bolsonaro. Desses políticos que pensam que o povo é palhaço e cuja plataforma é “limpar o que está aí”, sem dizer muito bem o que é.
O problema dos que têm problema com esse Coringa é o medo. Primeiro, o medo de sua humanidade e verossimilhança. Segundo, o pânico de enxergar que ele não é um psicopata. Um psicopata desconhece o sentido da empatia. O Coringa de Phoenix tenta negociar, obsessivamente, até que, na sua ótica perturbada, esgotem-se as alternativas.
Mesmo acometido de uma doença mental (muita gente ainda confunde psicose com psicopatia), afinca-se numa lucidez extrema no que se refere às regras básicas de convivência. Quando vêm os acessos de riso, tenta sempre avisar aos que não o compreendem, com um gesto negativo das duas mãos, tratar-se de um problema neurológico. Tem até um cartão que informa sua condição.
É medonho ver que o Coringa chegou com empatia para dar e vender. É quase um idealista da arte, da gentileza, do respeito ao cidadão, da solidariedade. É um dócil adversário dos embustes, da mentira, da exploração, até o momento em que a hipocrisia toma tamanho vulto que, torturado por seus delírios, “decide” que não há opção senão um violento cinismo.
Ao testemunhar os três playboys misóginos de Wall Street assediarem a passageira do metrô semi-vazio, antes de começar a rir, ele abana a cabeça, como a lamentar o incidente. Esse movimento, ora melancólico, ora gracioso, é a marca de seu desalento com o mundo. Um mundo onde Thomas Wayne, que nos quadrinhos costuma ser um Gandhi da elite financeira, no filme de Todd está mais para um candidato a Trump ou Bolsonaro. Desses políticos que pensam que o povo é palhaço e cuja plataforma é “limpar o que está aí”, sem dizer muito bem o que é.
Os diferentes risos do Coringa são formas de expressão e de reação à lógica ferrenha do sadismo que tomou conta das relações sociais. Há um segundo riso, atrasado em relação ao que o motivou, que é o mais medonho. Um riso empostado, agudo, com um movimento exagerado da boca. Ele o usa para reagir às piadas imbecis que se tornaram o padrão dos adeptos do discurso de ódio. Há quem pense que este Coringa representa tal discurso. É o oposto: ele é o vingador dos que não têm como se proteger da impostura carnavalizada dos novos populismos. É isso, acima de tudo, que mete medo.
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