Apoiador de presidente convocando manifestação popular é parte do jogo democrático. Presidente da República atiçando as ruas contra o Congresso é coisa que beira a insensatez. É como se Bolsonaro quisesse introduzir no processo eleitoral brasileiro um terceiro turno. No primeiro, prevaleceu como candidato antissistema. No segundo, despachou o petismo. No terceiro, tenta encurralar o Congresso. A conjuntura, que já era confusa, ficou ainda mais atrapalhada.
Um presidente que acaba de ser eleito para implantar um projeto de regeneração econômica e moral, em vez de negociá-lo na instância competente, recorre às ruas para desqualificar um Legislativo que saiu das mesmas urnas que o consagraram. A manobra é burra e incoerente. Bolsonaro flerta com a burrice ao injetar turbulência numa conjuntura que pede tranquilidade. Revela-se incoerente porque a jogada o deixa muito parecido com gente que ele sempre abominou.
No plano nacional, dois presidentes tentaram emparedar o Congresso. Em 1964, o esquerdista João Goulart, com suas reformas de base. Deu em golpe e ditadura militar. Em 1992, o embusteiro Fernando Collor, com sua "ilicitocracia". Deu em impeachment. No plano internacional, Bolsonaro parece inspirar-se no modelo venezuelano, no qual o coronel Hugo Chávez e o pupilo Nicolás Maduro deram brilho aos seus pendores golpistas com o verniz extraído das manifestações de rua. Deu no que está dando: ruína e baderna.
Era só o que faltava: um Bolsonaro com cheiro de naftalina pré-64, aparência "collorida" e hábitos venezuelanos.
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