Mas talvez os militares tenham razão em querer fingir que nada aconteceu, e vamos tocar pra frente. Neste caso, o mais caridoso seria lembra-los da diferença entre o real e o desejado, e saber distinguir o simples e o prático do truculento. Poderíamos começar descrevendo o golpe clássico: insurreição armada contra o governo constitucional. O golpe clássico tem variações. Lembro a vez em que uma tropa entrou no Parlamento em Madri ameaçando todos com sua arma e chegando a atirar para o teto. Em meio à confusão, com deputadas e deputados estirados no chão, o tenente limpou a garganta e disse com uma voz fina: —Buenas tardes.
O levante do “buenas tardes” não deu certo.
A não ser quando há sangue e tragédia, claro, ou quando o drama shakespeariano acaba com as três primeiras filas da plateia agonizantes, todos os golpes têm um certo tom de farsa. Inclusive os que vitimam civis e não envolvem petardos e bandeiras. Fiquemos, então, com o combinado. Não se glorifique o que é mais prático esquecer, mas não venham com essa de que 64 foi golpe e depois foi ditadura.
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