sábado, 8 de dezembro de 2018

Até tu, papa Francisco?

Tanto a Igreja Católica como as confissões evangélicas mantêm um medo atávico da sexualidade, do qual não conseguem se livrar. Até o papa Francisco, que com sua famosa frase aos jornalistas, “Quem sou eu para condenar a um homossexual?”, parecia ter aberto uma porta de esperança e compreensão da Igreja para com os diferentes, agora recuou.

Queixa-se agora Francisco de que a Igreja parece “inundada pela moda da homossexualidade”. E se espanta de que tantos sacerdotes e religiosos “se declarem homossexuais”, e pede que “sejam tomadas medidas para que não escandalizem”.


Não seria difícil responder ao papa Francisco, que nos havia admirado com sua liberdade de espírito e seu desprendimento do poder, que a Igreja deveria se preocupar mais com o pecado e o escândalo dos sacerdotes pedófilos, que abusam da sua condição para seduzir e violentar menores. Os sacerdotes homossexuais não representam nenhum escândalo, e eles estão sujeitos, assim como os heterossexuais, a respeitar o compromisso com o celibato que aceitaram voluntariamente. Nada mais.

Seria mais normal que, a esta altura, a Igreja Católica acabasse abolindo o celibato obrigatório como condição para exercer o sacerdócio. Não se trata de nenhum dogma de fé, e menos ainda de algum ensinamento dos evangelhos. A obrigação do clero secular de professar o celibato nasceu tarde na Igreja, na qual durante séculos não só sacerdotes, mas também bispos e até papas, eram casados e tinham família, começando por são Pedro, cuja sogra Jesus curou.

Todas as confissões cristãs se inspiram nos evangelhos. E é curioso que em nenhum deles exista uma só palavra, recomendação ou condenação da sexualidade nem da homossexualidade. Não se encontra uma só palavra sobre o tema na boca de Jesus, que certamente também era casado. Tão pouco medo tinha da sexualidade que foi acusado de ser “amigo de prostitutas”, sobre as quais chegou a dizer que teriam um lugar preferencial no paraíso.

Nem o exercício da sexualidade nem a homossexualidade são tratados nos evangelhos. Era algo que não preocupava o profeta de Nazaré. Suas prioridades foram sempre, pelo contrário, os marginalizados, os desprezado e os que sofriam os açoites da injustiça social.

Por que então esse medo dos religiosos quanto ao exercício da sexualidade, a força motriz não só dos humanos como também de toda a natureza, já que do seu exercício depende a sobrevivência das espécies?

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