sexta-feira, 7 de dezembro de 2018
O stress da liberdade
Uma amiga francesa mandou-me um link sobre um livro francês que defende a criação de novos vocábulos em substituição da adoção de palavras estrangeiras, baseando-se na afirmação de Wittgenstein de que «os limites da minha linguagem significam os limites do meu próprio mundo». Uma dessas palavras que, pelos vistos, faz falta à língua francesa (e à portuguesa) é Freizeitstress, palavra alemã que quer dizer à letra «stress do tempo livre» e traduz a angústia do homem do século XXI, «devastado entre procrastinação, sede de viver e medo de agir». O autor do livro, Laurent Nunez, explica porquê: antes de 1914, um camponês ou operário francês vivia 500 000 horas, trabalhando 200 000 e dormindo outras 200 000; restavam-lhe 100 000 para tudo o resto; hoje, a esperança de vida em França é de 700 000 horas. Dedicam-se 30 000 ao estudo, 70 000 ao trabalho e dorme-se menos duas horas por dia do que antes da Primeira Guerra Mundial. Temos, pois, 400 000 horas para tudo o resto – e é tanto que não sabem as pessoas o que fazer dele, pensando erradamente que não têm tempo para nada… Laurent Nunez conclui que talvez não gostemos assim muito de liberdade. Mesmo quando não temos uma palavra para dizer o que sentimos, ao contrário dos alemães.
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