segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Heróis não matam

O direito à asneira é um pilar das sociedades livres e democráticas. Desde que não incitemos à violência ou difamemos o próximo, devemos ser livres de nos expressar como bem entendermos e de proferir as idiotices que nos trepam à cabeça 
João Miguel Tavares

Heróis enfrentam a morte, na guerra ou em tragédias, para salvar os mais desvalidos, os feridos, os mais necessitados. Não são assassinos que saem armados para passar no fio da espada a cabeça de quem lhe é contra. Ao menos, nos ensinam a História e as lendas. Estão acima do mal, nunca a serviço dele. Em terra pacificada, glorificar matança como garantia de Estado de Direito acima de qualquer mandamento divino ou civil, tem outro nome.

Herói nunca elimina prisioneiros sob a guarda do Estado, porque não se sentiria digno. Estaria no mesmo saco do cambojano Pol Pot, generais nazistas comandantes de campo de concentração, ou mesmo ditadores militares de republiquetas bananeiras que com o braço forte dos seus carrascos eliminaram gente nas prisões como gado. Emilio Massera, também chamado de "Comandante Zero", que comandou a Escola Superior de Mecânica da Armada nunca será considerado herói na Argentina.

O herói nunca vai eliminar o mais fraco em favor do mais forte. Heroísmo é para muito poucos. Não é medalha para se cravar no peito de qualquer um de que lado esteja por estar acima das ideologias, invariavelmente vesgas.

No mês passado, a Espanha aprovou a exumação dos restos do ditador Francisco Franco do Vale dos Caídos, monumento para glorificar sua vitória na Guerra Civil com o trabalho de milhares de presos políticos. O generalíssimo deve deixar o cemitério que abriga os mortos de ambos os lados daquela guerra, mas não mais o “herói”. É um recado de que se precisa rever o heroísmo de quem matou não em batalha, mas como carcereiro.
Luiz Gadelha

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