quinta-feira, 9 de agosto de 2018

No Brasil e no mundo, a crise da democracia sempre esteve em pauta

A democracia é um regime político aparentemente frágil. Ela tem compromisso com eleições livres e com a liberdade, mas pode ser o caminho ideal para regimes autocráticos. Resguarda-se por meio de alguns instrumentos constitucionais de autodefesa, além da força das palavras. Estas, aliás, e num momento histórico e bastante difícil para a Inglaterra, foram a principal arma do sucesso do ex-ministro britânico Winston Churchill (30.11.1874 a 24.1.1965), em sua constante luta pela liberdade. Nada impede, porém, que sejam admitidos, em favor dela, em momentos cruciais para sua sobrevivência, outros meios legais.

Só entendemos o verdadeiro valor da democracia e da liberdade quando as perdemos. No caso da liberdade, os condenados e presos pela operação Lava Jato agora sabem, com absoluta precisão, o que perderam. A dor dessa terrível perda é simplesmente indescritível.

São de Winston Churchill, entre outras, estas duas frases, carregadas de lições e sempre citadas, quase nunca entendidas: “A democracia é a pior forma de governo, com exceção das demais”. “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeitos”. E, na democracia, a raiva, “sem a parte da vingança” (como diz a filósofa Martha Nussbaum, em entrevista à revista “Época”), “pode servir para nos impulsionar à igualdade. Com frequência, no entanto, a sede por vingança, tão fácil e atraente, confunde as pessoas, fazendo-as pensar que tudo vai ser resolvido se o outro grupo sofrer”.

Não pretendo tratar dos problemas de outros países que também sofrem com a crise da democracia. Uns descambam para a ditadura; outros buscam o populismo, que acaba no mesmo buraco. Quero ficar apenas em nosso país e na crise democrática por que passa.


O filósofo Luiz Felipe Pondé, ao se referir a alguns sintomas da crise da democracia, em sua coluna do último dia 6, na “Folha de S. Paulo”, disse que “gostaria de apontar um pequeno e importante detalhe dentro desse universo: a incapacidade de grande parte da classe profissional especializada em política” (o que chamaria de “inteligência pública” a seguir) “de conseguir entender a política como ela é. E mais, de entender o cidadão comum, com quem muitos desses especialistas dizem se preocupar. Uma coisa é um “projeto de democracia”, outra coisa é o que “o povo de fato quer”.

Depois de dizer assim, Felipe Pondé se referiu ao “espetáculo” do candidato a presidente Jair Bolsonaro na TV Cultura, no “Roda Viva”. Assisto sempre às entrevistas desse programa, mas assisti, igualmente, na GloboNews, às sabatinas dos principais candidatos à Presidência da República. Com uma ou outra conotação, Bolsonaro disse, nos dois programas, o mesmo que vem dizendo nas redes sociais e o que diz à maioria de seus apoiadores. Uma lástima!

Jair Bolsonaro é visto por muitos como uma ameaça à democracia. E ele de fato o é, sobretudo agora, com a indicação de seu vice, general da reserva Antonio Hamilton Martins Mourão – um defensor da ditadura e de intervenções militares. Mas o que mais impressiona nele e nos demais candidatos (refiro-me aos visíveis) é a falta de clareza de suas propostas de governo. Talvez ainda falte a todos eles a capacidade de provocar “emoções para fazer com que as pessoas se importem com suas propostas e lutem por elas”, afirmou a filósofa Martha Nussbaum.

Nosso futuro está no fortalecimento da democracia.
E em Deus, leitor, em primeiro lugar…

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