sábado, 21 de julho de 2018

O saber como pode

Nas sociedades simples, há compartilhamento do saber; ou seja, o conhecimento fica ao alcance de todas as pessoas, sem margem para se oprimir alguém por isso. Assim, o mesmo mapa cognitivo está ao alcance de todos, gerando um sistema social homogêneo.

Algumas pessoas assumem, entretanto, papéis especiais pela complexidade da função e repercussão nos destinos do grupo.

Estão, nesse caso, atividades relativas aos fenômenos mágico-religiosos, porque poucos estabelecem contato com divindades, manipulam forças relacionadas à morte e interpretam fenômenos sobrenaturais.


Nas sociedades complexas, surgem especialistas em diferentes setores, obtendo proeminência porque passaram por formação sistemática e receberam autorização do Estado para assistir quem sofre problemas espirituais, físicos e emocionais ou ocupar cargos elevados em áreas estratégicas. Eles concentram seus esforços numa função porque a capacidade humana para produzir conhecimento é infinita; assim, ninguém pode saber tudo, sobre todas as áreas, em todos os lugares.

Os especialistas modernos dependem de outros sábios em muitas outras áreas. Isso pode promover coesão interna, mas preserva o fantasma da opressão, porque existem diferenças no valor atribuído a cada atividade; logo, quem tem o conhecimento inerente às funções consideradas nobres ocupa planos sociais mais elevados, impondo teorias, definindo os rumos de seu grupo e obtendo alto rendimento. Há desqualificação do saber empírico, que ficou aquém daquele próximo à tecnologia avançada.

A sólida formação ocorre, atualmente, na escola, que encerra código de conduta, princípios filosóficos, técnicas pedagógicas, objetivos políticos e pesados custos operacionais, mirando interesses nacionais. Os países desenvolvidos definem, então, cuidadosamente, todo o processo educacional, propiciando aos imaturos os meios indispensáveis para a plena integração à sociedade.

O Brasil tem uma longa história de maus-tratos a essa qualificação para a cidadania, preservando a máxima da colonização portuguesa de que povo instruído é um risco ao domínio da metrópole. Isso fica mais nítido em campanhas eleitorais, como estamos vivendo agora, em que os agentes públicos agem sorrateiramente para manipular os mais desfavorecidos e preservar seu poder. Escamoteiam seus propósitos, fazem promessas vãs e introduzem seus filhos nos novos pleitos para controlar todas as esferas do Estado nos esquemas oligárquicos, que serão sempre o obstáculo maior para o processo de modernização do país.

Parece que os brasileiros jamais terão acesso ao saber que abrange técnicas profissionais de alto rendimento em diferentes áreas, capacidade de distinguir gestores comprometidos com o bem comum, seleção de práticas salutares para viver em comunidade e elaboração de projetos seguros para si e sua descendência. Permanecerão, portanto, sem autonomia para viver com dignidade, segurança e conforto.

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