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René Descartes inventou o “penso, logo existo”. Freud desmantelou o axioma, afirmando o oposto: quanto mais penso, menos existo; quanto mais controlo minha consciência reprimindo o profundamente desejado, mais faço o indesejado. Quem nos controla é (também) e sobretudo o (in) consciente. A ele pertence esse Brasil oculto que o futebol revela em toda a sua plenitude, talento e orgulhosa honestidade. Tudo o que vergonhosamente tem estado ausente de um mundo público dominado por administradores desonestos — “políticos” que nos levam ao jogo interminável da derrota. Justamente os que afirmam ser o futebol (e não o populismo autoritário e mendaz) o ópio do povo...
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Deus pode ser ou não ser brasileiro...
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Ao refletir sobre o futebol, assinalei essa ausência do “mais ou menos” que exige um novo horizonte na vitória ou derrota. Como o melhor professor de democracia do Brasil, o futebol obriga ao desempenho — a resultados. E, pior que isso, ele tem como premissa uma igualdade absoluta. No futebol — ao contrário da política — sabemos de tudo, menos do resultado. Ademais nele não cabem os triunfos eternos. No Brasil, os ladrões e os ricos jamais perdem; no futebol, os marginalizados viram, por conta exclusiva do seu talento, reis e milionários.
O interesse pelo futebol corre em paralelo à busca pela igualdade como um valor num sistema profundamente desigual. É isso que proporciona a experiência de igualdade, de mobilidade, de vitória e, hoje em dia, de transparência junto do resgate de uma honra coletiva aviltada e perversamente roubada por quem tinha como dever preservá-la.
O populismo e o messianismo negam a esfera do esporte que harmoniza carisma, patrimonialismo e um conjunto de regras que valem para todos, coagindo dirigentes, jogadores, árbitros, comentaristas e torcedores.
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E assim vai o futebol criando eventos que se transformam em estruturas e estruturas que engendram eventos e ciclos cuja determinação é impossível fora do generoso eixo do “destino”, e do dualismo “sorte/azar”. De qualquer forma, prefiro mil vezes os gastos com uma Copa e uma Olimpíada do que com uma guerra ou roubalheira política como tem sido o caso do Brasil.
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Roberto DaMatta
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