quinta-feira, 14 de junho de 2018

A crise atual se deve não à política, mas aos que se apropriaram dela

Naquela tarde, no início da greve dos caminhoneiros, ao deixar a recepção de moderno laboratório de análises clínicas, vieram-me à mente os dois Brasis nos quais vivemos – um equiparável ao Primeiro Mundo, responsável pela moderna tecnologia usada pelo laboratório; e o outro, que ocupa a maior parte de nosso território, mas não se enquadra no Terceiro Mundo. E concluí: a crise atual, pela qual passam milhões de brasileiros, tem explicação. Ela se deve não à indispensável política, mas aos maus políticos, que são os únicos responsáveis pela má gestão.

Deixei o laboratório a pé. Minha intenção era, pouco adiante, lá no alto da avenida Afonso Pena, próximo à praça da Bandeira, quase aos pés da serra do Curral, que nos contempla em instigante silêncio, estacionar meu carro ao lado do posto de gasolina que se localiza a dois quarteirões de minha casa. O frentista não me forneceu informação sobre a chegada de combustível naquele dia: “O caminhão – disse ele – pode chegar hoje à noite, até as 24h, amanhã ou qualquer outro dia. Vou dormir aqui, mas não lhe posso garantir nada”.

Embora ainda inseguro, retirei meu carro da garagem e me dirigi ao local mencionado, que antes estava completamente vazio. A operação durou 15 minutos, se tanto. Só que, quando lá cheguei, encontrei, e com idêntico objetivo, 12 ou mais veículos já estacionados. Estávamos realmente dispostos a enfrentar a noite e a madrugada. Nenhuma fila, por maior que viesse a se formar, nos faria voltar atrás.


Na enorme fila que logo se formou, comecei a refletir sobre meu país. Aqui vivi minha infância, minha juventude e aqui espero concluir em paz a maturidade. Chega – disse em voz alta só para mim – de corrupção! Nesse instante, ouvi alguém dizendo que não haveria gasolina naquele dia. Liguei o carro e fui para minha casa com medo.

Tenho medo, leitor, do que vem pela frente. A greve dos caminhoneiros foi apenas um aperitivo. A esperança que se acendeu na eleição indireta de Tancredo Neves e, depois, na promulgação da Constituição de 1988, mas, sobretudo, com os primeiros mandatos de Fernando Henrique e Lula, parece ter chegado ao fim. O povo está saturado das roubalheiras e da incompetência de seus representantes. Chega de mentiras! Mas não somos nós, afinal, que os elegemos e os colocamos na Presidência da República, no Congresso Nacional, nos governos estaduais, nas Assembleias legislativas, nas prefeituras, nas Câmaras de vereadores? Político não nasce em árvore.

Os veículos de comunicação (refiro-me aos jornais e às emissoras de rádio e televisão), em seus noticiários, nos passam a ideia, com realismo, do que poderá acontecer ao país se não fizermos reformas urgentes e profundas. As redes sociais estão inundadas de notícias, umas verdadeiras, outras falsas, mas, curiosamente, repletas de “gozações” sobre a desgraça do povo. Só nós fazemos piada com nossa própria desgraça. Ou isso é só despiste diante do que poderá acontecer?

Não nos iludamos, leitor: a crise não terminou. Os candidatos a presidente da República têm que pensar no país, não em seus egos. Têm que pensar em 210 milhões de brasileiros! A ausência de bons políticos e de boas ideias agrava a crise. A democracia está sob ameaça, e o atual governo, desmoralizado, não tem condições de acionar seus instrumentos de autodefesa. O remédio contra isso só virá com mais democracia e mais liberdade. A arma, leitor, para conquistá-lo, está no voto responsável de cada um de nós no próximo dia 7 de outubro.

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