terça-feira, 12 de junho de 2018

Greve para nada

As últimas semanas fizeram projetar sobre a Petrobras as mais diversas discussões, passando pelo julgamento de sua diretoria, presidida pelo engenheiro Pedro Parente, e chegando à proposta de privatização daquela que já foi a maior empresa brasileira. Pedro Parente entregou seu cargo, pressionado pelo movimento de greve dos caminhoneiros; as razões que o fizeram se demitir foram, segundo o mercado, as interferências políticas nas metas da empresa, que Parente liderava para, segundo ele, fazer com que a estatal se reencontrasse com seu prestígio junto aos investidores, em especial os internacionais; uma espécie de paraíso.

Estudiosos do controle da empresa reconhecem que tais investidores têm pouco ou nada para reclamar, já que 40% dos lucros da companhia há tempos migram alegremente para fora do país, com destino a grandes bancos e fundos de prestígio, além de notórios especuladores, todos atraídos pela generosa remuneração que tal operação lhes oferece. Nada contra. Afinal, quem investe quer e merece bons resultados. Só não se entende que estes venham do sacrifício de uma sociedade que depende do transporte rodoviário para tudo e, ainda, compra o gás de cozinha a R$ 80 o botijão.

Combustíveis fósseis são produtos da manutenção do monopólio do refino e de boa parte de sua distribuição, aos preços e condições que as contradições desse modelo fazem emergir. Durante muito tempo e ainda muito recentemente, quem foi contra tal formato econômico, o do monopólio, recebeu a pecha de traidor da pátria ou entreguista, mesmo em contraposição a tudo que no mundo deu e continua dando certo, sob a livre concorrência. Fácil dar lucro quando ninguém reclama dos preços reajustados a cada desvalorização do real frente ao dólar. Ninguém contra porque há quem pague. No caso, nós, brasileiros.

Além dos facilitários que orientam a remuneração dos investidores, além do assalto permanente ao caixa da estatal – todos os dias dos últimos quatro anos denunciado pela operação Lava Jato –, tem-se ainda que a Petrobras sempre foi uma seara de privilégios e de transferência de recursos para alegrar sua burocracia, por meio de programas de remuneração e de aposentadorias. O fundo que proporciona tais concessões a seus protegidos é sustentado com recursos transferidos da sociedade via preços cobrados pelos combustíveis, e tão bem-hidratado que sobram oportunidades para generosas participações em falcatruas, como as ultimamente denunciadas. Ninguém antes gritou para denunciar tais aberrações, como atitude de lesa-pátria dos ladrões que afanaram muita grana.

Essa é a realidade que a greve deixou de discutir. E o diesel segue caro, a gasolina nem se fala, e quem cozinha que economize o gás. Tudo como dantes no quartel de Abrantes.

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