terça-feira, 12 de junho de 2018

Histórias contadas por idiotas

Quando vamos acordar? Nos desastres, ao som de tiros, ao trovejar? Quando o tumulto terminar? E a eleição for perdida por todos, e ganha por alguns? Pouco antes que o sol se ponha? E onde estaremos nessa façanha? Na escuridão. No deserto de homens, ideias e ideais. Ali restamos perdidos. Sem opções. Onde todos os candidatos parecem iguais. E todos os gatos são pardos. As eleições estão vindo! O bem é o mal, o mal é o bem. O ar infecto, corrupto, imundo, poupa ninguém.

A eleição que se avizinha engana os sentidos: incita e frustra, ela põe e tira, persuade e desencoraja, faz levantar-se e depois derruba. Engana enquanto dormimos, conta mentiras, e depois nos deixa.


Com os olhos e línguas, candidatos do momento fingem lavar nossa honra com ondas lisonjeiras, transformando faces em máscaras, enganando nossos corações, e ocultando quem de fato são.

O eleitor não tem sossego. Habita lugar muito frio para ser o inferno. Não precisa ser porteiro do diabo. Mas já fez entrar gente de todas as profissões, que vão pelo caminho florido à fogueira eterna. A traição já fez seu pior; nem aço, nem veneno, inveja doméstica, armada estrangeira, nada pode afetá-lo mais.

Já quase esquecemos o gosto do medo. Já foi o tempo em que nossos sentidos gelariam ao ouvir tamanhas falsidades. Estamos fartos de horrores. Todos familiares com nossas memórias recentes. Nada mais nos abala. A chegada da eleição arrasta-se nesse passo miúdo dia após dia. Para a última sílaba do tempo narrado.

A nós tolos, todos esses ontem já nos enganaram. As próximas eleições não mais são que sombra errante de maus atores que se pavoneiam e se afligem no seu momento sobre o palco. E então nada sincero se ouve. São histórias contadas por idiotas, cheias de som e fúria. Significando nada. (*)

Elton Simões
(*) Texto inspirado em Macbeth, de William Shakespeare

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