A eleição que se avizinha engana os sentidos: incita e frustra, ela põe e tira, persuade e desencoraja, faz levantar-se e depois derruba. Engana enquanto dormimos, conta mentiras, e depois nos deixa.
Com os olhos e línguas, candidatos do momento fingem lavar nossa honra com ondas lisonjeiras, transformando faces em máscaras, enganando nossos corações, e ocultando quem de fato são.
O eleitor não tem sossego. Habita lugar muito frio para ser o inferno. Não precisa ser porteiro do diabo. Mas já fez entrar gente de todas as profissões, que vão pelo caminho florido à fogueira eterna. A traição já fez seu pior; nem aço, nem veneno, inveja doméstica, armada estrangeira, nada pode afetá-lo mais.
Já quase esquecemos o gosto do medo. Já foi o tempo em que nossos sentidos gelariam ao ouvir tamanhas falsidades. Estamos fartos de horrores. Todos familiares com nossas memórias recentes. Nada mais nos abala. A chegada da eleição arrasta-se nesse passo miúdo dia após dia. Para a última sílaba do tempo narrado.
A nós tolos, todos esses ontem já nos enganaram. As próximas eleições não mais são que sombra errante de maus atores que se pavoneiam e se afligem no seu momento sobre o palco. E então nada sincero se ouve. São histórias contadas por idiotas, cheias de som e fúria. Significando nada. (*)
Elton Simões
(*) Texto inspirado em Macbeth, de William Shakespeare
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