segunda-feira, 14 de maio de 2018

Cegueira extrema

Rearranjar a História de acordo com suas conveniências é pratica que une extremistas, sejam eles de direita ou esquerda. Quando contrariados pelos fatos, viram bichos e se defendem de modo idêntico: usam os fins para justificar os meios, ainda que os métodos incluam torturar e matar. Com aval ou a mando do Estado.

Nesse particular, nada difere os que fecham os olhos diante dos assassinatos em série promovidos por Josef Stalin em nome da Revolução Russa dos neo-militaristas tupiniquins, que se negam a enxergar os crimes da ditadura autorizados pelo generalato nacional.

A descoberta do memorando da CIA, de 1974, dando conta de que o ex-presidente Ernesto Geisel, até então tido como general light, teria autorizado a continuidade da política de extermínio de inimigos do golpe, expôs mais coincidências dessa fé sinistra entre os fundamentalistas dos dois lados.

Para setores da esquerda – os mesmos que aplaudem ditaduras como as de Nicolás Maduro ou dos irmãos Castro — só a existência do documento seria suficiente para anular o pacto da anistia, perdão “amplo, geral e irrestrito” firmado nos estertores do regime. Um exagero.

O que agora vem à tona não é de todo novo. Sabia-se das torturas e dos assassinatos cometidos pelo Estado brasileiro. Tinham-se pistas sobre o envolvimento direto das fardas estreladas. Ainda que extremamente importante, limita-se à confirmação dos crimes e da violência da ditadura, mesmo no período em que a História a considerou mais branda.

Na outra ponta, os papéis da CIA foram tratados como publicação “fantasiosa”, como se os generais-ditadores fossem santos. Merecedores de altares que têm sido reerguidos por má-fé de alguns e ignorância de muitos.

Estimulados pelo deputado candidato Jair Bolsonaro (PSL), para quem as execuções de presos políticos foram como “tapa no bumbum do filho’ – que até causam arrependimento, “mas acontece”-, as redes sociais foram invadidas por agressões sem pé nem cabeça do tipo “comunista bom é comunista morto”.

A guerra contra comunistas é tão falsa quanto nota de três reais, tão imaginária quanto o “inimigo” que os militares inventam para treinar tropas. Simplesmente não existe. Até porque o próprio comunismo não mais se segura em pé. Nem mesmo na fechadíssima Coreia do Norte, que, possivelmente pressionada pela escassez de alimentos para uma população faminta, começa a se abrir, nada lenta e gradualmente, ao “inimigo” capitalista.

Os registros da CIA desmistificam a História dos últimos generais da ditadura nacional, e, embora não tenham o condão de mexer com convertidos de um lado ou de outro, poderiam funcionar como um grito de alerta.

Não existe ditadura boa, nenhuma delas faz o bem. De direita ou esquerda, ditaduras foram, são e serão sempre pavorosas. Só ideologias e caráteres cegos não veem.

Mary Zaidan

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