quinta-feira, 12 de abril de 2018

PT nunca mais?

Caros brasileiros,

Alguém ainda se lembra de Miriam Cordeiro? A ex-namorada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou famosa nas primeiras eleições livres depois da ditadura militar em novembro 1989. Poucos dias antes do segundo turno ela fez uma acusação bombástica contra Lula: depois de um relacionamento extraconjugal, ele a teria forçado a fazer um aborto.

A denúncia, que foi ao ar no programa eleitoral do então candidato Fernando Collor de Mello, surtiu efeito: Collor, que disputava ponto a ponto nas pesquisas de opinião com Lula, ganhou as eleições.

O aborto que não foi feito foi a minha primeira lição na política brasileira. Aprendi: a briga pelo poder é feia e não tem limites.

Naquele tempo, parecia que eu estava num filme errado. Na Alemanha, depois de 40 anos de ditadura socialista na antiga “República Democrática Alemã”, o Muro tinha acabado de cair. No Brasil, no entanto, depois de 25 anos de ditadura militar, o medo do socialismo dominava a campanha eleitoral.

Essa lição me marcou e revelou um mecanismo da política brasileira para mim: o acesso e a permanência ao poder tem limite. Se o povo vota “errado”, ele tem que ser “corrigido”. Parece que esse mecanismo funciona ainda hoje. 


A campanha do ex-presidente Collor em 1989, apoiada pela Rede Globo, é um exemplo disso. O impeachment de Dilma, reeleita em outubro 2014, é outro. Sem crime comprovado contra ela, o julgamento no Congresso brasileiro no dia 31 de agosto de 2016 virou um tribunal político que “corrigiu” o resultado das urnas.

O mesmo Congresso brasileiro que votou a favor do impeachment de Dilma rejeitou a denúncia contra o presidente Michel Temer. O vice de Dilma havia sido denunciado por corrupção pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Com essa votação, ficou evidente que o Congresso brasileiro combate o combate a corrupção. Os deputados que nos tempos do mensalão aceitaram dinheiro do governo do PT para votar a favor de programas sociais do governo desta vez aceitaram favores do presidente Temer para livrar ele da investigação.

Vale ressaltar também que esse mesmo Congresso até hoje barra a tão pedida reforma eleitoral que mudaria as regras de votação de deputados e senadores. Essa reforma impediria a entrada no Congresso de representantes que não foram escolhidos pelo povo, mas pegaram carona nos candidatos mais votados.

Observo que o combate à corrupção perde força política quando ela não serve mais para combater o PT. Parece que a raiva contra o PT virou programa nacional. Lula na prisão, PT nunca mais?

Reconheço: a raiva é uma poderosa arma política. Como vemos na Europa, na Alemanha com ascensão da nova direita, ou nos Estados Unidos, ela consegue mobilizar milhões de pessoas. Mas cuidado: ela leva diretamente ao abismo.

Na Inglaterra, ela colocou o país no caminho do Brexit, uma decisão da qual cada vez mais britânicos se arrependem. Nos Estados Unidos, a raiva do Trump e seus seguidores faz o país lutar contra todos e todo mundo: “o establishment”, “os chineses”, “os mexicanos”, “os muçulmanos”, e cada dia aparecem mais inimigos.

No Brasil, a raiva levou o país a uma crise política e econômica que nem Dilma Rousseff teria sido capaz de produzir se tivesse ficado no Planalto. A raiva revela atitudes desumanas e perigosas, como a gravação transcrita de um operador de voo ao piloto que conduzia o Lula para a prisão em Curitiba: “Manda este lixo janela abaixo aí”.

Caros brasileiros, por favor, derrubem esse muro de ódio e raiva! O antipetismo não serve como programa político nacional. Lula na prisão não vai fazer o Brasil um país melhor. Melhor seria renovar nas próximas eleições o Congresso com candidatos que trabalhem pelo bem comum e não pelo bem próprio. Os brasileiros merecem representantes melhores e os seus votos não precisam de “correções” posteriores.

Astrid Prange de Oliveira

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