A prisão de Lula – e a possibilidade de ela se estender por um prazo longo – recomenda a revisão da estratégia petista. Mas o próprio caudilho tomou medidas acautelatórias para que isto não aconteça. Da cela, escalou sua dama de ferro, Gleisi Hoffman, como porta-voz e responsável pela articulação com outras forças políticas. O recado foi claro: qualquer negociação, interna e externa, tem de se dar em torno da candidatura de Lula. Fora disso, não há conversa.
O próprio Lula passou atestado do isolamento quando no circo de São Bernardo bradou que ali não estavam os engravatadinhos. De fato, de aliados apenas dois puxadinhos do PT: o PC do B de Manuela D’Avila e o Psol de Guilherme Boulos.
Se Lula não é mais senhor do próprio destino, por que então está conduzindo o PT para o matadouro mesmo sabendo que o registro de sua candidatura será negado de ofício pela Justiça Eleitoral?
Possivelmente está mais interessado na sobrevivência da narrativa que construiu para a história do que no destino do partido. Não necessariamente, os interesses de Lula e do PT são coincidentes.
A recusa em adotar o plano B é uma espada de Dâmocles na cabeça dos parlamentares petistas que vão disputar a eleição. E um obstáculo para a costura de alianças eleitorais.
Até quando será possível interditar um debate que está na cabeça de muitos petistas?
Outro fator contribui para a ampliação do isolamento petista: o “Lulinha paz e amor” deu lugar ao Lula carbonário, como se viu em seu discurso em São Bernardo.
É voltar ao PT do macacão. Só que este PT não pode ser reinventado, e a radicalização de seu líder acontece no momento em que se esvaiu o seu dom de mobilização. O palanque do ABC de agora ilustra bem que pouco ou quase nada restou do líder que encantava multidões.
Hubert Alquéres
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