segunda-feira, 9 de abril de 2018

As togas, as palavras e os gestos

Quando os ministros do STF adentram ao palco dizem coisas de outros modos e ainda antes de abrir a boca ou de escrever.

Os cabelos, as gravatas, os ternos, os sapatos, os broches, os distintivos, e os colares e os vestidos no caso das ministras, eis alguns signos que falam, aos quais são acrescentados os xampus, os perfumes, as cores artificiais de algumas cabeleiras, o esmalte das unhas, os cuidados com as sobrancelhas, os óculos ou lentes, enfim as idiossincrasias peculiares a cada um dos onze.

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Não é novidade que o corpo fala e bem antes das palavras ditas e escritas. Mas como fala o corpo e desde quando?

A saudação com a mão aberta destinou-se originalmente a mostrar ao semelhante a ausência de pedras, de paus ou de outras armas em tal aproximação.

O sorriso, o esgar, o sobrolho, a respiração em ritmo tranquilo e a ausência do vermelho no branco dos olhos completam este quadro tão expressivo.

Quando os ministros começam a falar já disseram muito. E o corpo e seus adereços prosseguirão falando para reforçar ou negar o voto, às vezes antecipado em vazamentos na mídia, em ilações de jornalistas ou mesmo em entrevistas de ministros que falam fora dos autos.

Os ministros não dão socos e nem pedradas ainda, mas alguns deles têm lançando suspeitas e palavras ofensivas uns aos outros, sem contar ameaças (não tão veladas) de macular o notório saber jurídico e a elevada reputação que só pareceram óbvias a quem os indicou para a mais alta corte e àqueles que os sabatinaram.

Toga é do mesmo étimo de teto e de detetive, que tudo cobre no primeiro caso e tudo descobre no segundo.

O tempora! O mores! (Ó tempos! Ó costumes!). Nem se pode mais aplicar outro dito famoso: ridendo castigat mores (rindo, ele repreende os costumes). O momento é de lágrimas, de choro e às vezes de ranger de dentes, mas não de rir.

Deonísio da Silva

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