segunda-feira, 9 de abril de 2018

O último grande circo

Com o circo armado em torno da “resistência” à prisão, Luiz Inácio Lula da Silva e o PT até conseguiram cenas impactantes para a campanha eleitoral, mas a um preço alto demais para falar só com crentes confessos. Não arregimentaram um único apoiador a mais, mas animaram fundamentalistas na outra ponta, para delírio de gente como o deputado Jair Bolsonaro.

O condenado Lula, que é réu em outros cinco processos, debochou da Justiça, fez troça dela. Algo inadmissível para qualquer cidadão, quanto mais para quem já foi presidente e desejaria disputar novamente o cargo. Travestiu de coragem seu ato de covardia, escondendo-se atrás da militância para adiar a prisão. E, sem qualquer escrúpulo, mais uma vez usou sua mulher morta, que serviu de mote a uma missa-comício. Um escárnio.

Ainda que aguerrido, o rebanho ficou muito aquém do que os líderes petistas e dos ditos movimentos sociais previam. Nem as mais de 48 horas de transmissão ao vivo e os apelos incessantes nas redes sociais foram capazes de mobilizar multidões.

À exceção do Rio de Janeiro e do Recife, na sexta-feira, e da porta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde Lula se exilou desde a expedição do mandado de prisão, o que se viu no resto do país foram manifestações de pouca monta.

Muitos pneus queimando em rodovias, com fogo e fumaça a esconder os poucos militantes. Atos que só conseguem repúdio da população.

Em Belo Horizonte, no sábado, depois de gente de verde-amarelo lavar o passeio e a fachada, flores e mais flores foram colocadas na porta do prédio da presidente do STF, Cármen Lúcia, vandalizado na noite anterior.

O PT perdeu também com o incentivo à violência contra jornalistas – carros de imprensa depredados, fotógrafos e repórteres agredidos; TV Globo e revista Veja xingadas por Lula, em um discurso surreal. Não pelo conteúdo – a conhecida cantilena de que é um perseguido porque defende os pobres -, mas pelo ultraje à Justiça.

Por 55 minutos, alguém que já deveria estar preso escorraçou em público, com transmissão ao vivo da imprensa que ele repudia, o MPF que o investigou, o juiz que o sentenciou, as cortes superiores que confirmaram a sentença e negaram habeas corpus e liminares.

Solto, Lula cada vez dialoga menos com o país. E, embora tenha tentado, o mandado de prisão não teve o condão de mudar isso. Só os fiéis lhe dão ouvidos. Sua negação à Justiça acirra a belicosidade entre os extremos e escancara o seu já sabido desapreço pelas instituições e pela democracia.

Bate no peito e diz que não é mais um ser humano, e sim uma ideia. Mas há tempos deixou de ser uma boa ideia.

Mary Zaidan

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