O mau exemplo dado ao país por dois ministros do STF traduz, com exatidão, a intolerância que tomou conta de todos nós. Não se conversa mais sobre política, e as belíssimas discussões jurídicas de outros tempos, às vezes até bastante acaloradas, tomam o mesmo rumo das discussões políticas. Ambas são substituídas pela estupidez das ofensas pessoais, como as que agora protagonizaram os dois juízes.
A ministra Cármen Lúcia, que tem tido equilíbrio e tino na condução dos trabalhos afetos à Casa que preside, em boa hora suspendeu a sessão plenária de pura baixaria entre seus dois colegas de toga. No dia seguinte, em entrevista, lamentou o episódio transmitido ao vivo e em cores pela televisão para todo o país: “Estamos lidando com seres humanos”, desabafou, numa tentativa de explicar o inexplicável.
O ministro Marco Aurélio Mello, relator de duas ações que questionam a prisão de réus condenados na segunda instância, já em mãos da presidente Cármen Lúcia (que, no entanto, se nega a botá-las em pauta), depois, talvez, de refletir sobre o horroroso arranca-rabo entre Mendes e Barroso, acabou por afirmar que, de fato, “o desgaste do tribunal está terrível”. Em seguida, fez questão de se referir à decisão do STF sobre o habeas corpus preventivo em favor do ex-presidente Lula: “Foi muito ruim julgarmos só o caso do ex-presidente. Agora, estamos pagando um preço incrível”. Um preço, aliás, para o qual o ministro colaborou quando interrompeu o julgamento para dizer, exibindo o bilhete aéreo que guardava no bolso, que precisava viajar para o Rio de Janeiro.
O Brasil inteiro aguarda o julgamento do habeas corpus preventivo em favor do ex-presidente Lula. Pelo que se viu na semana passada, Lula ainda terá uma avenida de recursos pela frente.
Em nosso país, a lei continua não valendo para todos.
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