Com a agenda vazia, o Presidente Temer convocou seus marqueteiros de plantão para criar outra. Ensaiou o discurso que lhe prepararam e desfraldou a bandeira do combate à violência no Rio de Janeiro, o que equivale a dizer iniciar uma guerra contra. Pode alcançar vitória temporária, quando os criminosos, traficantes, policiais e políticos envolvidos com a violência pegarão mais leve, saindo do terreno enquanto a cruzada presidencial estiver em ação. Tudo será apresentado como o maior avanço do governo Temer, mas não vai durar. Quando a tropa se recolher, eles voltarão ao mesmo.
Nada contra a luta deflagrada. É evidente que o governo federal não poderia omitir-se da omissão do governador Pezão e antecessores. Mas não deveria transferir dessa forma sub-reptícia a responsabilidade para as tropas enfrentarem a calamidade instalada no Estado, resultante da sua ineficiência, do descaso pelo social, desmandos e corrupção reinante nas administrações federal, estadual e municipal.
O governo jogou nas ombreiras dos generais um problema que é seu, sem se preocupar em apresentar propostas complementares para assegurar a reversão da dramática situação do Rio de Janeiro. Nenhuma das medidas contidas no decreto que oficializou sua decisão representa, por exemplo, investimentos para enfrentar suas causas, que são muitas. Adotadas a vol d’oiseaux, as providências que serão adotadas durante a intervenção federal não refletem qualquer amadurecimento de pensamento sobre como nosso país se tornou um dos 25 mais violentos do mundo.
Combater é um conceito recorrentemente utilizado por dirigentes políticos quando nada mais têm a propor para equacionar problemas que vão surgindo para atrapalhar suas tranquilas existências. Exatamente pela forma equivocada como empregam a expressão, sem se deterem no exame aprofundado sobre como o Brasil chegou a esse estado de coisas, não conseguem engajar as populações na execução das providências anunciadas com estardalhaço como as mais adequadas.
É o que deve acontecer no Rio de Janeiro, onde a maioria da sua população, sobretudo a parcela mais jovem, já não acredita na instalação de uma sociedade justa e igualitária, capaz de promover o desenvolvimento social em iguais condições, onde a violência seja exceção e não a regra brasileira.Com certeza seria diferente se Temer empregasse suas imaginação criadora e tropas de choque para trabalhar por esse modelo de sociedade, existente em muitos países civilizados e do qual o Brasil encontra-se distante como do sol.
Quem imagina Michel Temer liderando uma campanha nacional, com os mesmos recursos que compraram duas vezes sua absolvição pela Camara dos Deputados, em favor da educação, com Moreira Franco bradando profissionalismo para socializá-la e elevar seus níveis? Ninguém, claro. Como o ministro teve a sinceridade de informar ao país, seu grupo não é amador. Sabemos todos o que ele quis dizer.
É preocupante a maneira como Moreira Franco classificou a esperteza do círculo presidencial. Mas poucos ainda se espantam com esse tipo de desfaçatez. O grupo de feiticeiros do Planalto esquenta o caldeirão com outros objetivos. Sob o manto da intervenção federal no Rio de Janeiro, escamoteia estratégias para esconder o despreparo do governo para tornar o Brasil um país mais justo e igualitário. De quebra, garante impunidade e sobrevivência aos procurados pela Lava Jato. Mas o rabo do gato costuma escapulir do esconderijo.
Não mais do que de repente, o sempre obsequioso ministro Dias Toffoli, do STF, lembrou que durante a intervenção federal não é possível modificar a Constituição. Por essa razão, justificou, não sabe quando apresentará seu voto sobre a questão foro privilegiado para os privilegiados de sempre. Isso depois de ter pedido vistas do processo em novembro do ano passado e sete Ministro terem votado pela restrição do seu alcance. Outros rabos felinos continuarão a surgir na cena política nacional.
Diversos fatores contribuem para aumentar a violência no Brasil. Estamos cansados de saber que uma delas é a escandalosa desigualdade social, traduzidas em miséria, fome, desemprego e a falta de programas e ações sociais públicas capazes de reverter a dura realidade da maioria da população. Bem como a sensação de injustiça e a crescente impunidade de políticos e parlamentares denunciados, mas dificilmente processados, julgados e sentenciados.
A lista é enorme e a questão batida. Mas bastaria o governo investir na questão educacional para melhorar a vida dos brasileiros, reduzindo, pela educação, a violência que busca combater colocando o bloco na rua. Há cada três anos, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa,na sigla em inglês), realiza grande pesquisa sobre o tema. A última, em 2015, revelou que o Brasil caiu no ranking mundial nas áreas de ciências, leitura e matemática, mantendo milhares de crianças fora da escola, professores mal remunerados e sem formação adequada para educar. Mas os gatos não estão preocupados com a escola. Eles não sabem ler.
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