sábado, 14 de outubro de 2017

Os palácios, os casebres e a deslavada demagogia

A sede da Procuradoria Geral da República é o perfeito exemplo dos magníficos palácios que sediam os diversos segmentos do Estado brasileiro. Eles conferem excepcional conforto às autoridades e aos servidores dali; satisfazem projetos soberbos das empreiteiras e empresas de manutenção; consomem fortunas do erário e, sobretudo, intimidam os cidadãos comuns. Granito, vidro, aço escovado, obras de arte, móveis em madeira de lei e tapetes persas em profusão transformam-se em símbolos de poder, com seus ingredientes de arrogância e submissão dos contribuintes mantidos a distância. Seus agentes não se incomodam com a eficiência, a transparência e o respeito ao patrimônio nacional; querem apenas auferir as delícias que o cargo pode proporcionar, criando, se possível, mais privilégios. Não se lembram de que pertencem a um país com inúmeros problemas ambientais, econômicos e sociais que bloqueiam sua modernização.

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A revolta é inevitável quando comparamos esses palácios com milhares de precárias escolas espalhadas pelo país, expondo corpo docente e crianças ao desconforto e a inúmeros riscos. A tragédia na creche Gente Inocente, de Janaúba, mostrou esse contraste, embora a mídia não tenha denunciado isso, ignorando o fosso intransponível entre a rede pública de ensino e as altas esferas do Estado brasileiro. A edificação acanhada era apenas um arremedo de templo do saber, sem conforto, beleza e segurança. A sala de aula dos brasileirinhos estava a poucos passos da calçada, e o vigia licenciado chegou facilmente ali. Não havia extintor de incêndio. Ninguém imaginava que seria necessária uma saída de emergência. O teto de PVC contribuiu para a propagação do fogo, aumentando o desespero de todos. Faltava um homem vigoroso para agir rapidamente. E podemos ter certeza de que nenhuma autoridade vai determinar correção de rumos nas outras unidades de ensino, onde os pais deixam seus filhos e poderão receber os cadáveres se outro insano entrar com instrumentos letais, como aconteceu na escola de Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011.

Essa fragilidade de alunos e professoras repete-se em milhares de aglomerados das grandes cidades, incluindo Brasília. Já registrei aqui a ausência de serviços mínimos de vida digna por omissão do Estado na Rocinha, onde há conflito de traficantes, tumultuando o cotidiano de muitas famílias honestas. Os riscos e a fome estão também em inúmeros casebres na área rural, em que crianças descalças andam quilômetros até uma escola sem cor, luz e material pedagógico, tendo apenas uma professora.

Trata-se do planejamento estratégico dos agentes do Estado brasileiro. Eles mantêm sua dominação, ocupando os palácios, onde inserem seus filhos e protegidos que perpetuarão seu curral eleitoral, fundamento de seu sucesso em 2018. Repetem ad infinitum seu discurso demagógico, enquanto manipulam os recursos públicos para se enriquecer e, principalmente, impedir a prosperidade dos eleitores, cujo pontapé inicial seria dado numa boa escola.

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