O caso está sendo tratado no Rio como mais um entre centenas de outros que ocorrem diariamente na cidade. Mais uma violência policial contra um morador de uma comunidade. Pezão virou um agente passivo dessa brutalidade contra as pessoas carentes da cidade. Como um paspalhão, um energúmeno, incompetente, assiste de camararote a sua polícia vandalizar a população. Como não bastasse ter destruído financeiramente o estado junto com o seu comparsa Sérgio Cabral, de quem é aliado nos escândalos de corrupção, o governador não vislumbra nenhuma medida para levar mais segurança aos cariocas. A cidade está entregue às baratas, aos políticos e aos bandidos. E como Pezão não lidera nada, a polícia, destrambelhada, ocupa as comunidades para barbarizar seus moradores.
A história que conto aqui aconteceu no último final de semana. Diante de tanta violência no Rio, ela até passaria desapercebida se não fosse pela indignação da família da vítima que exige a apuração do crime. Dona Marisa de Carvalho Nóbrega, moradora da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio, foi socorrer o filho que apanhava dos policiais do Bope, tropa de elite da polícia. O garoto se recusava a confessar que era traficante de droga, suspeito porque se vestia bem. Mais suspeito ainda por ser negro, pobre e morar numa favela. Ele tem 17 anos e estava acompanhado da namorada e de uma irmã, que também era torturada.
Os truculentos policiais não gostaram de ser abordado por Dona Marisa que insistia em livrar o jovem das garras deles. Dizia que o filho não era traficante. Vestia-se bem porque ela, diarista, sacrificava-se para vê-lo decente e bem aparentado. Os policiais continuavam a duvidar da palavra de Dona Marisa e insistia que ali só traficante de droga se vestia igual a ele, portanto, o filho dela fazia parte da patota do crime da Cidade de Deus. Para defender o garoto, Dona Marisa se exaltou. Apenas isso. Levou uma coronhada de fuzil na nuca e foi parar no hospital Salgado Filho, no Méier, Zona Norte da cidade. Dois dias depois morreu. Seu crime: ser favelada, pobre e sub-raça.
Dona Marisa foi enterrada, mas antes a polícia civil pediu um novo exame cadavérico antes do sepultamento. Existe um “equívoco” no laudo emitido pelos médicos, segundo a direção do hospital que não entrou em detalhe sobre essa falha. Os médicos do hospital negam agora o próprio laudo que assinaram da causa-morte da vítima: trauma e hemorragia intracraniana.
Incompetência ou conveniência, soa estranho que médicos não saibam diagnosticar um paciente. Dona Marisa foi enterrada sob o clamor dos cinco filhos que ficaram órfãos. Lá estavam, à beira do caixão, os dois filhos a quem ela deu a vida para arrancá-los das mãos dos policiais que os torturavam com luvas cirúrgicas para não deixar vestígios das digitais. Agora, o procedimento é o mesmo de sempre: investigação, interrogatórios e...esquecimento. Isso mesmo: esquecimento e impunidade. E quem se atreve a cobrar essas mortes brutais, logo é lembrado que os bandidos já mataram mais de 107 policiais este ano. Portanto, a polícia tem salvo-conduto para sair por aí matando. É a lei do atira primeiro e depois pergunta quem é.
A população do Rio, traumatizada pelo clima de violência, está dividida. Chora a morte dos policiais mortos em combate, mas silencia quando um negro, um pobre e um favelado é fuzilado numa comunidade. Esconde-se e fecha os olhos para crimes bárbaros como o de Dona Marisa que trabalhava como diarista para evitar que os filhos caíssem na escola crime, como acontece na periferia do Rio quando adolescentes são recrutados pelo tráfico pela omissão do poder público.
Mas a morte de Dona Marisa é apenas mais uma para encher a estatística dos crimes praticados diariamente no Rio. Amanha ninguém vai dar bolas, nem lembrar a coragem dessa mulher de enfrentar os brutamontes do Bope antes que os filhos fossem fuzilados e aparecessem com armas na mão para a polícia forjar um tiroteio entre bandidos.
Descanse em paz, Dona Marisa. A sua dor, console-se, não sai nos jornais.
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