Pedimos suas bênçãos, Senhor, na semana em que nosso país comemora seus 517 anos de existência, abrigando uma população de 207,6 milhões de habitantes e vivendo um dos momentos de maior aflição de sua trajetória política. Eis a nossa prece.
É bem verdade, Senhor, que habitamos um território belo e imenso, do tamanho de um continente, que possui a maior reserva de água doce do mundo, 12% da quantidade existente nos 193 países do nosso planeta, e com biomas terrestres – Mata Atlântica, Amazônia, Cerrado, Caatinga e Campos do Sul – abrigando 20% das espécies do planeta. Em nosso exuberante torrão, até desastres naturais há, sem, porém, o poder destruidor de tufões, terremotos e furacões que devastam nações poderosas e maltratam populações.
Pero Vaz de Caminha certamente tinha razão, Senhor, na carta escrita ao rei Dom Manuel em 1º de maio de 1500, ao descrever que a terra descoberta pelo comandante português Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril, “em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem”.
Agradecemos, Senhor, pela extrema generosidade com que nos agraciou, dando-nos terra tão rica, onde se plasmou a índole de uma gente singular, assentada em um “processo de equilíbrio de antagonismos”, como ensina o mestre Gilberto Freyre: as culturas europeia, indígena, africana; o católico e o herege; o jesuíta e o fazendeiro; o bandeirante e o senhor de engenho; a paulista e o emboaba; o pernambucano e o mascate; o bacharel e o analfabeto; o senhor e o escravo”.
Tal convivência antagônica formou um povo cordial, alegre, trabalhador, hospitaleiro, afeito à paz, acessível, mesmo que também carregue traços negativos, como bem ilustra Afonso Celso em seu clássico Por que me Ufano do meu País”: falta de iniciativa, falta de decisão, falta de firmeza, pouco diligente”. Seria esse o outro lado da profecia de Vaz de Caminha, quando garantiu que, na nova terra, “em se plantando tudo dá?”
Venha a nós o vosso Reino!
E que venha logo, Senhor. Antes que a matança nas ruas alcance níveis incontroláveis. E antes que a divisão entre “nós e eles” torne irreversível a desarmonia social. É o que ansiosamente esperamos. Por aqui, baixou um clima de guerra aberta. Irmãos contra irmãos. Tiros por todos os lados. A violência urbana assola bairros, ruas, vielas das grandes e médias cidades. Os atentados terroristas no mundo, nos primeiros 5 meses deste ano, registram um número menor de homicídios do que os ocorridos em nossas plagas em apenas 3 semanas de 2015, quando foram assassinadas 3,4 mil pessoas, uma morte a cada 9 minutos.
O Rio de Janeiro, nosso mais conhecido cartão postal, virou terra de ninguém. Semana passada, mataram o 100º policial militar somente este ano.
O apartheid social se alarga na onda de um discurso propagandeado por um partido político, que há três décadas tenta incutir na alma da população o divisionismo entre bons e maus, bandidos e mocinhos, nós e eles, elites e plebe. A velha luta de classes aposentou suas armas após a queda do muro de Berlim, em 1989, e o fim da guerra fria, mas por aqui a estrela do comunismo continua a brilhar no peito de militantes vestidos de vermelho, que pregam a “revolução”, a derrocada das elites e a morte do liberalismo, ao qual adicionam o prefixo “neo”.
Não somos uma sociedade igualitária, Senhor. Há enorme distância entre pobres e ricos, privilegiados e oprimidos, donde se pode até a compreender o escopo de instituições que desfraldam as bandeiras da igualdade, da fraternidade e da justiça para todos. Só não é possível defender o ideário dos direitos humanos usando as armas da intolerância e da condenação contra quem ousa discordar de métodos como invasão de propriedades, depredação de patrimônios, incitação à violência.
Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu.
Que a vossa vontade, Senhor, chegue até nós. Rogamos que a paz do céu baixe sobre nosso território, elevando os menos favorecidos a degraus superiores e dando aos habitantes do alto da pirâmide social nobreza de espírito para lutar pelo fim das desigualdades e enxugar a lágrima dos aflitos.
Nossos pobres, Senhor, chegam a 30 milhões de pessoas. E mais de 10 milhões de brasileiros vivem em condições de extrema miséria, sem condições de comprar comida em quantidades necessárias para sua sobrevivência. A milhares de brasileiros falta pão sobre a mesa, sobretudo nas periferias das metrópoles, onde populações carentes se aboletam em favelas, palafitas e casas de papelão.
O pão nosso de cada dia nos daí hoje. Farto para uns e migalhas para outros.
Rogamos, Senhor, que injete na consciência dos nossos homens públicos o dever sagrado de cumprir a missão de não trair o compromisso com aqueles que os conduziram às suas funções. Impõe-se a eles o dever de bem representar o povo. Que não deixem faltar pão sobre a mesa dos famintos. Que dêem qualidade aos serviços públicos. Que não permitam aumentos exagerados de impostos.
Perdoai as nossas ofensas. Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
Pedimos perdão, Senhor, para os pecadilhos do cotidiano, as ofensas comuns que se revelam em deselegância, gestos mal educados, mentirinhas e falsas versões. Não podemos pedir perdão, Senhor, para atos que signifiquem assalto à coisa pública, praga que se expande sob a maquinação da burocracia estatal, de políticos e círculos de negócios. Máfias e assaltantes do Estado, formando milícias de um poder invisível, precisam prestar contas à Justiça, antes de receber o perdão divino.
E não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
Nessa Semana da Pátria, suplicamos por ajuda, Senhor, para construir a Terra dos nossos sonhos, onde gerações viverão em convivência harmoniosa, o ponto de encontro entre grupos e classes, o habitat do bem-estar coletivo, o terreno onde florescem sementes do Produto Nacional Bruto da Felicidade. Dai-nos força, Senhor, para nos livrar dos males que afligem nossa bela, porém sofrida, Nação.
Ajudai-nos, Senhor, a subir ao altar do Bem.
Amém!
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