Vale lembrar que, sem carteira assinada, o trabalhador perde a possibilidade de receber benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) em caso de acidente de trabalho ou invalidez. Além disso, o recebimento do seguro-desemprego fica inviabilizado. Muita gente resolveu sair da zona de conforto e tentar empreender. Mas ainda é cedo para dizer se essa mudança do perfil do mercado de trabalho se concretizará. No fim das contas, a abertura de vagas formais só ocorrerá a partir da retomada dos investimentos. O pacote de concessões tem potencial para alavancar a economia, gerar emprego e renda. Entretanto, ainda engatinha.
E esse processo depende exclusivamente de dois fatores: a estabilidade política e a econômica. O governo, mesmo abatido pela crise, tem dado demonstrações de força para resolver questões de curto prazo. Deve alterar as metas fiscais de 2017 e 2018, além de aprovar parte do saco de maldades para reduzir despesas com servidores. Entretanto, a reforma da Previdência, essencial para que o país reequilibre as finanças públicas a longo prazo, continua engavetada. E a cada nova denúncia da Operação Lava-Jato, ganha mais força a tese de que a revisão das regras para concessão de benefícios do INSS terá de ser feita pelo próximo governo.
A sucessão dos rombos fiscais, inclusive, ameaça o processo de queda de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) deve reduzir a taxa em um ponto percentual, para 8,25% ao ano, na reunião marcada para 5 e 6 de setembro. Entretanto, a equipe de Ilan Goldfajn tem sido alertada reservadamente para o risco de que a Selic tenha que voltar a subir caso o reequilíbrio nas contas públicas não passe de um protocolo de intenções.
Isso faria ruir qualquer possibilidade de recuperação econômica. O país continua a conviver com crise. O risco é de que se torne crônica e permanente. As próximas semanas tendem a ser agitadas, já que os servidores públicos prometeram ir para as ruas protestar contra a proposta de adiamento dos reajustes salariais acordados e aprovados no Congresso Nacional.
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, no trimestre de maio a julho de 2017, havia 13,3 milhões de pessoas desocupadas no Brasil — uma redução de 722 mil em relação ao trimestre de fevereiro a abril. Naquela época, 14 milhões de brasileiros estavam desempregados. Em relação ao mesmo período do ano passado, o percentual de desocupados subiu 12,5%, um adicional de 1,5 milhão de pessoas fora da força de trabalho.
Apesar do aumento, a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara, avalia que, na margem, o movimento é benigno, ainda mais considerando que a taxa de participação atingiu 61,8%, recorde histórico. “Isso mostra que há muitas pessoas buscando trabalho. Assim, a queda na margem da taxa de desocupação decorre de genuíno aumento da população ocupada. Bom sinal para a recuperação da atividade econômica”, destaca.
Além disso, Thaís comenta que 190 mil pessoas foram adicionadas à força de trabalho. Os dados do IBGE apontam que esse movimento decorre do aumento dos empregados no setor privado sem carteira de trabalho assinada (+566 mil), empregadores (+422 mil), bem como empregados do setor público (+193 mil) e trabalhadores familiares auxiliares (+119 mil). “Revisamos nossa expectativa para a taxa de desocupação no terceiro trimestre do ano para 12,4%. No ano, nossa expectativa é de que a média da taxa de desocupação atinja 12,8%. Para 2018, a perspectiva é de continuidade da melhora, com a taxa rumando a 11,6% na média do ano”, diz.
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