Em menos de uma semana, o PGR denunciou oito petistas, incluindo procedimentos duplos contra os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, e sete senadores peemedebistas. Mandou prender o seu ex-braço direito, Marcelo Miller, suspeito de ter orientado a delação dos irmãos Batista, o diretor da J&F, Ricardo Saud, e Joesley, cujas inconfidências gravadas teriam abalado a fé cega que Janot depositara no delator da flecha de prata.
E para fechar o ciclo de dois mandatos consecutivos deve ainda disparar contra deputados do PMDB e apresentar nova denúncia contra Temer.
Desde março de 2016, quando o juiz Sérgio Moro deu publicidade à escuta em que Dilma avisa Lula que está enviando o “Bessias” com o termo de posse na Casa Civil, sabe-se da intenção de garantir privilégio de foro para o ex. Ainda que a gravação tenha sido anulada como prova, é difícil crer que o PGR tenha demorado 17 meses para investigar o caso, e que só tenha conseguido conclui-lo a contento na semana passada.
Também não parece verossímil que Janot só tenha fechado na quarta-feira a investigação quanto à liderança de Lula na organização criminosa que surrupiou dinheiro da Petrobras. O procurador Deltan Dellagnol, do Ministério Público do Paraná, já havia demonstrado isso, em 14 de setembro de 2016, em um criticadíssimo power point.
Dos demais petistas denunciados agora, a maioria é reincidente. A começar pela senadora paranaense Gleisi Hoffman, presidente nacional do PT, que se tornou ré há um ano, e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo. A lista contempla ainda os ex-ministros Edinho Silva, Guido Mantega e Antonio Palocci, condenado a 12 anos por Moro e que, nesta mesma semana, protagonizou as acusações mais devastadoras contra Lula, fechando um cerco quase sem escapatória para o ex.
No PMDB do Senado, a turma-alvo envolve políticos descolados como Renan Calheiros (AL), com uma dúzia de processos nas costas, Edison Lobão (MA), Valdir Raupp (RO), Jader Barbalho (PA) e Romero Jucá (RR), líder do governo na Casa, além do ex-presidente José Sarney. Todos se limitaram às clássicas reações de que não há provas contra eles.
Trataram os ferimentos leves das novas flechadas como ataque desferido por alguém que necessita limpar sua imagem e tem pouquíssimo tempo para fazê-lo.
Janot queria (e ainda quer) exibir no currículo a façanha de ser o primeiro do país a denunciar um presidente da República em exercício do mandato. E o fez em incomum tempo recorde de três meses desde a fatídica noite em que Joesley gravou Temer no Palácio do Jaburu. Nada semelhante ao acuro que teve com os demais denunciados.
Reincidindo na pressa, promete repetir o ato contra Temer até sexta-feira, seu último dia frente à PGR. E o fará a partir de cruzamento de delações, entre elas a do próprio Joesley e a de Lúcio Funaro, recém-homologada pelo ministro Edson Fachin.
Em uma só semana, Janot conseguiu com sua atabalhoada atuação de última hora prestar mais um enorme desserviço ao país. Já tinha golpeado o instituto da delação ao premiar criminosos confessos com liberdade e imputabilidade, colocando em risco um princípio caro às apurações da Lava-Jato.
Agora, para delírio dos acusados, derrubou a credibilidade das denúncias que ofereceu. E acrescentou fermento ao discurso de perseguição e demonização da política, mantra repetido pelo PT, por Lula e Dilma, por Temer e os seus.
Arremeteu flechas empenadas. Resta saber com qual intenção.
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