Que Lula está à procura de uma nova imagem para 2018 acaba de ser revelado em quatro linhas de sua coluna em O Globo, por Ancelmo Gois, um dos jornalistas mais bem informados do país. Ele disse na segunda-feira que Lula, em um jantar na casa do ator Fábio Assunção, confiou um segredo: “que está cada dia mais interessado pela filosofia e pela poesia”, o que alguém já traduziu como seu desejo de aparecer mais tranquilo, banhando-se nas águas calmas do saber e da arte. Nasce assim também a nova imagem do Lula leitor, tão diferente do antigo, ao qual ler “dava sono”, ou para o qual a leitura era “pior do que fazer o exercício na esteira”. Agora ele lê, não romances, mas filosofia e poesia.
Revelou ainda mais o polêmico ex-sindicalista, o político do “nós contra eles”, que um dia teve um ato falho e chegou a dizer que o DEM, partido de oposição, deveria ser “extirpado” da política. Era então o Lula da espada. No jantar de agora, Lula confidenciou que vive um momento no qual, disse: “procuro cada vez mais valorizar a vida e a amizade”.
Ele sabe que em 2018 nenhum político raivoso, velho ou novo, será eleito presidente. Hoje começam a ter mais chances os Macri ou os Macron, políticos capazes de devolver orgulho e esperança ao país. Não é tempo de exterminadores. Poderia parecer uma provocação por parte de Lula dizer que hoje valoriza mais do que nunca a amizade, quando toda a classe política está em guerra. É que Lula é capaz de farejar por onde passam as lebres. É o melhor marqueteiro de si mesmo.
Isso reflete que Lula não é daqueles que desistem facilmente. Não sei se é mais corrupto ou não do que os outros políticos que como ele estão brigando com a justiça. Isso será decidido pelos tribunais. O que é certo é que começou a tomar distância deles na operação de resgate.
É verdade que o ex-sindicalista sempre foi mais pragmático do que ideológico e que soube se entender igualmente com banqueiros e deserdados, com empresários milionários e simples trabalhadores, dizendo a cada um o que queriam ouvir e sempre se recusou a ser rotulado politicamente: “Não sou nem esquerda nem de direita , sou sindicalista”, era seu velho lema.
Sua estratégia sempre foi se entender com gregos e troianos, com Hugo Chávez ou Maduro e com Obama ou Sarkozy, com Rajoy e Felipe González. E hoje, se necessário, com Macri e com Macron, enquanto seu partido defende Maduro.
Sabe que Temer, que era seu amigo e que pediu a Dilma que o escolhesse como vice, como muitos dos ministros do atual Governo acusados de corrupção, já foram seus ministros e de Dilma. Estiveram juntos um dia no mesmo banquete. E sabe que poderiam volta r estar juntos amanhã. Lula é, sobretudo, um estrategista e herdou de seu amigo Fidel Castro a ideia de que negar mil vezes uma acusação pode levar a que seja absolvido pela História, e que repetindo outras mil vezes o que pedem as ruas pode acabar sendo abençoados por elas.
Lula não está morto. Se conseguir ser candidato, saibam seus adversários e concorrentes que ele intuiu que a sociedade brasileira busca a paz, e que em vez de ir em busca de debates ferozes com seus possíveis adversários, começou a tirar o pó de sua velha estratégia de tentar unir o Brasil exatamente quando o país parece estar mais dividido.
E que seu partido também não se esqueça disso. Lula não está gostando que o PT apoie muito o Governo da Venezuela e seu líder Maduro, porque intui que já são terra arrasada. Nem quer um partido mais à esquerda do que ontem porque sabe que a onda no Brasil atravessa outras águas.
Ninguém sabe qual será o futuro do seu partido, mas às cabeças mais exaltadas deste, amantes das brigas de galos, já começou a dizer que ele prefere hoje um cenário de trégua, que está valorizando a amizade e que prefere ler e refletir a brigar. Além disso, deu a entender que não deseja que o próximo encontro em Curitiba, daqui a um mês, com Moro, o terrível, seja tão tumultuado e alardeado como o anterior.
Será que ele irá, em sua nova metamorfose de amor pela filosofia e de valorização da amizade, abordar desta vez seu inimigo Moro buscando a pomba da paz?
Lula é capaz de surpreender a sua própria sombra. Quantos Lulas existem?
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