sábado, 12 de agosto de 2017

Provocação da reforma eleitoral deveria ser abortada na rua

Não consigo encontrar um substantivo melhor do que “provocação” para definir a manobra que, à luz do dia e com velocidade supersônica, está criando a classe política brasileira, sem nem consultar a sociedade, sob o pretexto de reforma eleitoral. Provocação, porque estão fazendo não nas sombras, mas a céu aberto, sem medo da reação da opinião pública da qual se sentem donos e senhores quando não simplesmente a desprezam.

É uma provocação porque essa maioria de políticos, unidos agora todos em um abraço de paz, com medo de cair nas redes da Lava Jato e de não conseguirem se reeleger, estão começando a votar uma reforma eleitoral que é, para eles, a melhor e mais fácil anistia geral para corruptos. É um escárnio que, depois dos trilhões que os políticos receberam ilegalmente com o escândalo de corrupção da Petrobras, que já levou muitos para a prisão, agora se concedam, por lei, a bagatela de mais de três bilhões de reais para suas campanhas eleitorais. Dinheiro roubado mais uma vez das necessidades muito mais urgentes da população, como o que falta nos hospitais até mesmo para emergências médicas, para que os jovens continuem estudando nas universidades públicas ou para pagar os salários dos professores e funcionários públicos.


Em vez de apresentar uma reforma austera nas campanhas eleitorais que hoje, com a Internet e as redes sociais, não precisam nem da metade das de antes, votam uma festança de dinheiro público. Em vez de promover uma reforma para a substituição de um Congresso que se revelou incapaz de representar a sociedade e que pensa apenas em sua sobrevivência, apostam, ao contrário, em um sistema no qual terminariam eleitos os mesmos que estão hoje. Conhecidas as artimanhas dos partidos e seus chefes, é mais do que evidente que com a nova reforma eleitoral serão eleitos aqueles que tenham mais fundos públicos para suas campanhas que poderão continuar sendo milionárias, mas agora com o nosso dinheiro.

Tudo isso sem uma discussão com as forças da sociedade, sabendo que podem estar condicionando o futuro de um país já envenenado com seu desgosto com a classe política. E não pensaram em outras reformas, como do recall para que os eleitores possam, se não cumprirem suas promessas, retirar o mandato dos políticos eleitos. Ou sem pensar em abolir o foro privilegiado que só serve para encobrir seus crimes e adiar os processos judiciais. Ou em admitir o voto distrital, que aproximaria os candidatos do povo. Ou sem pensar em aceitar um prazo para a reeleição dos deputados, ou para permitir candidaturas fora dos partidos com mecanismos para facilitar que qualquer cidadão dispute um lugar na vida pública sem passar pela humilhação das organizações políticas.

Se essa provocação que estão tecendo ponto a ponto, com pressa, aqueles que deveriam ser a representação e a alma da sociedade civil não levar as pessoas para a rua, quando é que outra coisa vai levar? E desta vez poderiam estar todos os cidadãos juntos, porque a provocação não de uma ou de outra ideologia, é um tapa em toda a sociedade, que é considerada menor de idade e talvez, o que é pior, capaz de engolir esta e outras provocações que queiram inventar, agora de forma aberta, rindo de todos. Ou a sociedade protesta agora ou amanhã será tarde demais. Não haverá mais tempo para parar uma provocação que diz respeito ao momento atual e que poderá sobretudo condicionar por muito tempo o futuro político deste país já muito humilhado por uma classe política velha e sob suspeita.

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