sábado, 5 de agosto de 2017

A força do querer

Depois de ser absolvido pelo TSE por excesso de provas, Temer conseguiu escapar da investigação da PGR pelo excesso de emendas parlamentares e cargos usados para convencer deputados a votar “pelo Brasil e pela governabilidade”. Uma farsa vergonhosa com cartas marcadas que, por seu cinismo e previsibilidade, não mereceria uma cobertura de televisão ao vivo.

Até o “Jornal Nacional” e a novela “A força do querer” (que não é sobre Temer) não foram exibidos para que víssemos um espetáculo constrangedor, em que a oposição desempenhou o papel de legitimar a “vitória” governista dando quorum e votando “contra” para aparecer, para esbravejar em rede nacional, fingir que quer mesmo derrubar Temer, quando o quer fraco e sangrando até 2018.
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O desinteresse e o desprezo da população pela “votação histórica” são mais que isto, são desesperança. Com seu look antiquado de galã dos anos 50, Temer representa o arquétipo da velha política, uma raposa esperta que conseguiu ser presidente da Câmara três vezes e escolhido por Lula para ser vice de Dilma, para depois derrubá-la com a ajuda de uma maioria parlamentar. É um exemplo de político brasileiro, um péssimo exemplo. Um espécime em extinção que sintetiza as práticas que vêm deteriorando a política brasileira e revelando que todos os partidos, ou quase, desenvolveram um espírito de organização criminosa, para manter o poder e institucionalizar a corrupção, usando de todos os meios para inviabilizar as investigações e salvar a pele de um terço do Congresso.

OK, “Fora Temer” é uma unanimidade, mas e o pós-Temer? Tirando os lulistas patológicos, e os fanáticos bolsonaristas, quem se anima para eleições diretas? Diz a lenda que a História não anda para trás, mas não custa lembrar que Getulio Vargas, depois de ter sido por oito anos um ditador odiado, que censurou, prendeu e matou muita gente, cinco anos depois de deposto voltou nos braços do povo em eleições democráticas, saindo do lixo e entrando para a História. O povo brasileiro é capaz de tudo. Até mesmo de esquecer as propinas e falcatruas de Lula e transformá-lo em um Getulio 2.0?

Nelson Motta

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