O número de votos a favor de Temer, que recorreu ao pior da política e riu de todos, ficou acima do esperado pelo Planalto. Mas o resultado e a garantia do mandato não significam uma travessia fácil para o governo. Muito pelo contrário. Há um descontentamento enorme no país contra o presidente, o mais impopular da história. Será preciso um convencimento muito grande no Congresso para conseguir o apoio necessário à reforma da Previdência. No que depender da equipe econômica, nenhuma nova concessão será feita para que o projeto ande. Na avaliação dos técnicos, tudo o que era possível abrir mão já foi feito. Agora, dizem eles, é aproveitar o momento favorável e partir para o ataque. É importantíssimo dar perspectivas de que o quadro fiscal não saiu do controle.
A ala política do Planalto acredita que o governo, mesmo fortalecido, terá que recuar em alguns pontos para que os itens principais da reforma prevaleçam. A promessa é de que, já a partir de hoje, a tropa de choque que atuou nos últimos dias para preservar o mandato de Temer saia a campo e coloque a reforma da Previdência na pauta de urgências do Congresso. Temer acredita que, mesmo parlamentares que votaram contra ele, como os do PSDB vão encampar a agenda de reformas de olho em 2018. Nenhum candidato vai querer tratar desse tema durante as campanhas eleitorais. Portanto, ressalta o presidente, será melhor fazer logo o mal agora e colher os frutos mais adiante.
Apesar do discurso de preocupação com as contas públicas, deve-se ressaltar que o governo pouco fez para entregar o ajuste fiscal que prometeu assim que tomou posse. A gastança continuou a todo vapor, benesses foram concedidas a corporações, em especial aos servidores públicos, e os cofres não foram poupados nos últimos dias para garantir a derrubada da denúncia de corrupção passiva contra Temer feita pela Procuradoria-Geral da República. Não à toa, as metas fiscais terão que ser alteradas. Neste ano, em vez de deficit de até R$ 139 bilhões, veremos rombo entre R$ 150 bilhões e R$ 155 bilhões. Em 2018, o buraco nas contas deverá saltar de R$ 129 bilhões para até R$ 140 bilhões.
O governo apostou firme na recuperação da economia e da arrecadação para evitar o desgaste de ter que mudar as metas fiscais. Acreditava-se que receitas extras compensariam a elevação dos gastos e que ninguém daria conta da fragilidade das finanças. Contudo, nada do que o Planalto e a equipe econômica esperavam ocorreu. Assim, o discurso de austeridade foi sendo desmontado. O retrato final do fracasso será explicitado nos próximos dias, quando o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciar que foi incapaz de entregar o que prometeu, que o tão alardeado ajuste ficará para depois.
Os investidores, porém, já jogaram a toalha em relação ao ajuste fiscal neste e no próximo ano. Para eles, o mais importante, neste momento, é que Temer consiga levar o país até o fim de 2018 sem grandes solavancos. Todos sabem que novas denúncias contra Temer estão por vir, mas não devem mais provocar tanto estresse. O que os donos do dinheiro querem é a manutenção da equipe econômica e do compromisso com as reformas. Há boas notícias no horizonte. O ritmo da atividade está melhorando, ainda que lentamente, a inflação está em queda e os juros, no nível mais baixo desde 2013. Garantir esse quadro, com a volta gradual do emprego, já será suficiente. Ninguém espera uma revolução, apenas o arroz com feijão.
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