O reiterado apoio do PT e de seus satélites (Psol, PCdoB, PDT etc.) à sangrenta ditadura venezuelana – que matou, nas ruas, mais de cem manifestantes em dois meses -, indica a natureza do projeto político interrompido pelo impeachment de Dilma Roussef.
Interrompido, mas não extinto. Mais que nunca, o partido o defende, num de seus raros gestos de coerência e sinceridade. Coerência, sim: sem o apoio dos governos de Lula e Dilma, o regime hoje comandado por Nicolas Maduro não existiria.
Lula, quando da celebração dos 15 anos do Foro de São Paulo, em 2005, jactou-se de ter “inventado o Chavez”. E inventou mesmo.
Esta semana, o condenado (embora solto) José Dirceu fez coro à presidente do partido, Gleisi Hoffmann, defendendo o regime de Maduro num artigo para o jornal espanhol El País.
A ladainha é a mesma: Maduro é democrata, difamado pela imprensa burguesa e pelos lacaios do imperialismo. Os cidadãos assassinados e os presos políticos, claro, são um detalhe.
O que se deduz é que, na remota eventualidade de retorno do partido ao poder – que José Dirceu, sonhando com Lula, garante que ocorrerá -, já se sabe qual o modelo político a ser imposto ao país.
As milícias que assassinam nas ruas de Caracas existem também aqui. E Lula chamou-as de “exército do Stédile”, ameaçando, em mais de uma ocasião, jogá-las contra seus adversários. O “exército” apresenta-se sob diversas siglas: MST, CUT, MTST etc.
Lula não hesitou em ameaçar o próprio Sérgio Moro: disse, em seu depoimento, em maio passado, que, voltando ao poder, mandará prender os que hoje pedem a sua prisão. Ao ser instado a se esclarecer, disse que falava em sentido figurado. Claro, claro.
Em relação ao chavismo, o PT admite, nas atas de seu 5º Congresso, em 2015, que cometeu uma falha. Enquanto Chávez, coronel do exército venezuelano, engendrou seu golpe com o apoio das Forças Armadas, o petismo quis impor sua revolução à revelia delas – e contra elas. Em vez de conquistá-las, quis enfraquecê-las.
O sentimento revanchista, sobrepôs-se ao pragmatismo. A Comissão da Verdade, que intentava punir os raros sobreviventes do regime militar, findo há mais de três décadas, blindou as Forças Armadas ao discurso esquerdista.
O partido lamentou também não ter intervindo no currículo das escolas militares, manejado as promoções dos oficiais de alta patente e aparelhado o suficiente a Polícia Federal. E são essas as instâncias, na máquina do Estado, hoje hostis ao projeto petista.
Mesmo assim, ainda tem (literalmente) alguma bala na agulha. O partido investiu na formação de uma Força Nacional, subordinada ao governo – e não às Forças Armadas -, e pretendia extinguir as PMs, o que enfraqueceria o poder dos governadores.
Depois de desarmar a população, queria desarmar os estados e desaparelhar os militares. Não deu tempo.
Mas as conexões com o crime organizado avançaram. A inteligência do Exército constatou que, apenas no Rio, há nada menos que 15 mil fuzis, além de metralhadoras, granadas e até obus nas mãos das quadrilhas do narcotráfico. Sem destroçar esse arsenal, o patrulhamento ostensivo terá curta validade.
E é esse o cerne da presente intervenção no Rio, que poderá, diante de eventuais (e prováveis) vinculações para além daquela área, estender-se a outros estados. O Estado Maior que opera na cidade não desconhece a presença de aliados revolucionários de países vizinhos, espalhados em outras cidades, a postos para entrar em ação. Nada é dito, mas tudo é monitorado.
Enquanto a política continua a exibir seu estado de degradação – e a rejeição à denúncia contra Temer, na quarta-feira, na Câmara dos Deputados, dispensa comentários -, novas prisões pela Lava Jato prosseguem em território fluminense.
Mas há mais: há um outro jogo com cheiro de pólvora sendo jogado no país. Em dez anos de guerra no Vietnã, os EUA perderam 60 mil soldados. É o número de brasileiros mortos por ano na guerra civil da criminalidade. Um Vietnã por ano – e isso há mais de dez anos. Eis o desafio que corre paralelo à luta contra a corrupção da política – e que guarda conexões cada vez mais visíveis com ela.
O PT deixou o governo, mas seu legado está vivíssimo.
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