A entrevista exclusiva publicada pelo EL PAÍS com Rodrigo Tacla, ex-advogado do Departamento de Operações Estruturais da Odebrecht – a unidade de negócios da construtora brasileira especializada em comprar vontades de políticos em todo o continente americano – mostra um panorama de corrupção sistemática e admitida. Algo incompatível com qualquer noção de respeito pelas normas democráticas de transparência do sistema e respeito aos contribuintes e eleitores de cada país afetado.
O fato de que o escândalo afete muitos líderes latino-americanos coloca vários países em uma perigosa crise institucional. De ex-presidentes como o peruano Ollanta Humala ou o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva a – o que é pior em termos de estabilidade política – presidentes em exercício como Michel Temer do Brasil, Juan Manuel Santos da Colômbia e Danilo Medina da República Dominicana, a lista ameaça aumentar com o avanço das investigações.
Parece que com a recuperação da democracia em muitos países da América Latina após anos de ditaduras, aconteceu uma combinação perigosa de Estados fracos, administrações incapazes e a necessidade de um rápido desenvolvimento em infraestrutura. Tudo isso sobre um importante crescimento impulsionado por anos de bonança deu como resultado uma bolha colossal de subornos que tinha que estourar.
É fundamental que as sociedades afetadas não caiam em um perigoso desencanto com o sistema democrático frente ao grau de penetração da corrupção. Para isso é necessário primeiro uma forte atuação dos tribunais, como está fazendo a Justiça brasileira e, depois, a implementação de medidas de controle e transparência para evitar o saque dos cofres públicos sofrido pelos países afetados pelo caso Odebrecht. E isso não poderá ser feito sem uma profunda transformação da classe política, seus princípios e prioridades.
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