terça-feira, 2 de maio de 2017

Tempo, tempo, tempo, tempo

O leitor pode — e deve — considerar lento o tempo da Justiça no Brasil, mas deve também, ou deveria, não embaralhar (ou condicionar) esse compasso arrastado (mas minimamente impessoal) ao ritmo fulanizado do calendário eleitoral. É essencial que não se confundam um e outro, e que não se pressionem ou intimidem, ou sairemos da República da impunidade para a da impunidade e do justiçamento.

Se os processos judiciais são demoradíssimos neste país, muito pior seria que de súbito se acelerassem apenas para dar respostas a demandas e expectativas eleitorais.

Vejamos o caso de Lula. Concordo que seja o líder de um projeto de poder criminoso-autoritário sem precedentes, trabalho diariamente para que a gravidade do assalto petista ao Estado brasileiro não caia na vala comum dos demais crimes revelados pela Lava-Jato, e creio que o ex-presidente será condenado em primeira instância ainda este ano; mas avalio — escrevi e reescrevo — que, apesar disso tudo, ele será candidato, e competitivo, em 2018. Não é torcida, por óbvio. É análise e projeção.

A imagem pode conter: texto

Essa leitura decorre também de haver simplesmente refletido sobre uma questão objetiva: estamos em maio de 2017, e Lula ainda não foi sequer condenado em primeira instância. Será, reforço; mas ainda não foi. No entanto, para que não possa concorrer no ano que vem, deverá estar condenado, também em segunda instância, até 1º de outubro de 2018, véspera da votação em primeiro turno.

Apertado, né?

Por favor, leitor: pense no relógio biológico brasileiro, no andamento habitual dos processos, nas múltiplas capacidades de recurso e procrastinação, e me responda se — com um ano e meio até lá — não é improvável que o ex-presidente esteja impedido de concorrer.

Fazer o quê?

O tempo da Justiça não pode correr excepcionalmente para punir alguém — mesmo que Lula. Enquanto isso, enquanto vibramos com o que supomos ser sua decomposição pública e o condenamos extrajudicialmente, ele vai se investindo de vítima e fundamentando a própria mitologia de herói.

Nenhum comentário:

Postar um comentário