Não era certamente um conclave de santos representando o povo do Brasil, mas havia erudição, discernimento, bagagem intelectual e, ainda, respeito com a coisa pública.
Havia corrupção em grau não perceptível e interesses velados, que na atualidade seriam considerados troco na conta do restaurante.
Quando saí de lá, em 2006, por decisão pessoal, o fiz deixando atrás um cenário que tinha-se degenerado assombrosamente. Ficaram mais raras as figuras de destaque ético e intelectual; já pululavam mensaleiros, aqueles movidos a vantagens e barganhas ilícitas.
Estive recentemente naquela Casa e notei que a inarredável decadência ultrapassou os limites imagináveis. As virtudes praticamente estão a um passo da extinção, enquanto os pecados e vícios são soberanos. Lá, mais que pessoas dispostas a servir a nação, encontram-se figuras que se servem da nação, tendência comum aos Poderes Executivos centrais e periféricos. Abusa-se de prerrogativas e pratica-se o patrimonialismo mais abjeto; a locupletação foi escancarada pela Lava Jato. A devassa em curso tirou as cortinas e os biombos do “poder”. Jogou nos lares do país as vantagens, os ganhos ilícitos e insaciáveis, incompatíveis, e criminosos considerando os amplos bolsões de pobreza e a falta de recursos para atender os serviços minimamente essenciais.
Lula queixava-se dos deputados em Brasília, que definiu como “300 picaretas” na década de 90. Os oito anos de governo dele coincidiram certamente com um aumento para 400 ou mais que merecem a definição imortalizada pelo ex-presidente. Salvam-se poucos, nitidamente insuficientes para garantir a eficiência da instituição representativa da “democracia”.
O aumento de remuneração, supostamente voltado a dar “autonomia financeira” aos parlamentares, na prática não serviu, e ocorreu com uma profunda decadência ética no Legislativo federal, atrelada à mesma decadência nas instâncias executivas estaduais e municipais.
O escritor escocês Robert Louis Balfour Stevenson anotou que “a política talvez seja a única profissão em relação à qual se considera que nenhuma formação prévia é necessária”. Aí está o causador do problema.
No Brasil quem trabalha não costuma ter tempo algum para dedicar ao meio político, dessa forma o ambiente ficou restrito, com raras exceções, a quem faz da política sua profissão e se esquece da missão, do sacerdócio, que “in tesi” é a finalidade de quem atua nessa seara.
Brasília é uma ilha da fantasia, surreal, cínica, afastada da realidade nacional, registra a maior renda per capita, 36,4% superior à de São Paulo e exatamente o dobro da de Minas Gerais, ainda seis vezes superior àquela do Estado de Maranhão, o mais atrasado do país, juntamente com Alagoas.
O Estado do Maranhão teve ministros, presidentes de estatais, presidentes do Senado e até presidente da República. Em vão. Com o poder nas mãos, continua o pior do ranking, enquanto seus representantes políticos ditam lei no Congresso.
Se fosse possível passar por um “espectrofotômetro político“ os elementos que formam o ambiente dominante em Brasília, se dariam as cores da ignorância e corrupção e do descaso com o sofrimento da população.
Depois do petrolão, aparecem agora os desvios do BNDES e a fórmula que os regia. Os pagamentos das propinas eram no exterior, e a maior fatia para os presidentes da República, que, segundo Joesley Batista, receberam da JBS R$ 500 milhões (US$ 150 milhões) em contas no exterior. E Obebrecht e demais grupos? Mais de R$ 10 bilhões?
Num ambiente tão perverso qualquer moralização drástica e urgente é bem-vinda.
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