O que não pode esperar
Inovar: palavra da hora em Educação! No entanto, grande parte das aulas, Brasil afora, é ministrada de forma tradicional (quadro de giz e exposição oral), o que leva muita gente a afirmar que o ensino não melhora porque o professor não quer mudar. Conclusão simplista! A maioria dos docentes adoraria inovar — se tivesse condições e treinamento adequados. Não é o conservadorismo que os impede: é a realidade. Enquanto 64% das escolas nem biblioteca têm (Censo Escolar/2014), autoridades investem na compra de computadores, porque a inovação é apresentada como solução mágica para os problemas da Educação. É como se dissessem: “só tendo computador os alunos aprenderão”. Ou: “mudando o método de alfabetização, os alunos lerão em pouco tempo”. E, no entanto, o melhor método ainda continua sendo aquele que o professor sabe utilizar bem.
Mudar por mudar nada resolve. Mas, hoje, o que mais se vê, é a defesa inconteste da mudança. Fato agravado porque muitos dos que a defendem jamais comprovaram na prática (leia-se: em sala de aula) sua real eficácia....
Sim, é preciso mudar, mas conscientes de que não é qualquer inovação que garante qualidade. É preciso analisar o contexto muito bem antes de implantar mudanças, caso contrário, se continuará a fazer alto dispêndio, com retorno nulo: especialmente quando não se considera o que alunos e docentes de fato necessitam. Por isso, recomendo ouvir sempre o professor. E, com redobrado cuidado, ouvir os que se opõem à medida! São eles — os que executam — que podem apontar o que a realidade escolar demanda para o sucesso de qualquer medida. O que alguns chamam de “aversão à mudança”, em geral, é um alerta sobre reais necessidades de infraestrutura e/ou treinamento. Muitos desastres do passado teriam sido evitados se tivessem ouvido quem operacionaliza planos idealizados por autoridades. O Ensino por Ciclos com Progressão Continuada, inovação estrutural rejeitada por 95% dos docentes (estudo publicado em “O Professor Refém”, 2006), é um exemplo do que ocorre quando se inova sem esse essencial cuidado. O tempo provou que a razão estava com os docentes: a qualidade baixou ainda mais!
Por fechar os olhos à realidade das salas de aula; por ignorar que 53% das escolas ainda não têm rede de esgoto; por não verificar se quem executa está adequadamente treinado para colocar a inovação em prática — entre outras óbvias prioridades —, por tudo isso (e muito mais!) é que continuamos inovando... e fracassando.
E assim continuaremos, se não optarmos pela mais urgente mudança: a escola que ensina a ler, escrever e calcular, de verdade — única inovação que não pode esperar mais, porque propicia cidadania, autonomia intelectual, e capacidade crítica a quem nunca teve uma única chance.
O Brasil e os brasileirinhos agradecem!Tania Zagury
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